O «verdadeiro» significado do Advento

Crónicas 1 dezembro 2020  •  Tempo de Leitura: 4

Iniciamos mais um Advento. Este ano um pouco estranho e marcado por tanto confinamento. Muitas famílias celebrarão estes dias no meio de tanta tristeza, dor e incerteza por ver os seus a partirem ou hospitalizados. Outros tantos, atravessam dificuldades económicas, quase catastróficas. Por estes dias vemos tantas ruas vazias nas nossas cidades e vilas; tantos negócios fechados ou falidos… Se não fosse o movimento de carros e outros transportes, pensaríamos que toda a atividade parara…

 

Que Advento este… Pois. Talvez este ano seja a ocasião de celebrar mais seriamente este tempo litúrgico.

 

O Advento celebra-se com o aproximar do solstício de inverno. A escuridão dos dias, torna-se gradualmente mais intensa para reabrir-se lentamente, junto ao Natal. Jesus o sol nascente, que veio para iluminar aqueles que estão nas trevas e na sombra da morte. Iluminada pela Sua luz, a humanidade caminha no tempo e na história até ao encontro final com Ele, cumprindo assim, todas as coisas

 

Este é o verdadeiro significado do Advento: assim como o Filho de Deus, assumindo a condição humana veio ao nosso encontro na plenitude dos tempos, assim vem em cada momento da história, até que venha na Sua glória para nos entregar ao Pai.

 

O Evangelho deste primeiro domingo fala-nos da necessidade de vigiar. Neste pequeno trecho de São Marcos, quatro vezes é(-nos) dito para vigiar! Porquê?

 

Para o cristão a vigília que é proposta não se refere apenas ao Natal que está para chegar, mas sim à espera das últimas coisas! É sobre estas últimas coisas que o Evangelho tece o tema da vigília e da espera. Há uma relação entre estas e o Natal. Deus mudou a nossa história ao nascer. Mudou o sentido dela ao fazer-se um de nós. No entanto, nós só a perceberemos totalmente ao fim. Desta forma, faz sentido vigiar o Natal, porque o Senhor vem, na perspetiva do fim dos tempos, onde Ele virá na Sua glória.

 

O cristão é convidado a saber esperar como homem de fé que sabe que a história tem um sentido, que é verdade que tudo acabará, mas terminará com um encontro com o Senhor. O Advento não é nada mais que o convite para que anunciemos esta expetativa de encontro e não o medo do fim. O encontro com o Senhor que, tendo dado um novo sentido ao nascer, dá sentido ao concluir tudo…

 

Vivemos momentos de incerteza e medo. No entanto, o Advento é um convite a olhar para dentro de nós, encontrar tudo o que nos amedronta e olhar para Aquele que vem ao nosso encontro e se doa com generosidade.

 

Jamais teríamos pensado que este Advento se apresentaria com uma ameaça tão próxima que nos pede atenção renovada e responsabilidade pela nossa proteção e da dos outros…

 

Porém, continuam a haver sinais de esperança. Quantos se colocam ao serviço dos outros? Quantos são aqueles que dão o seu melhor no serviço dos mais frágeis e dos mais necessitados, respondendo a antigos e novos pedidos de ajuda? Quanta humanidade generosa, quanta dedicação, quanta solidariedade, quanta piedade e fé se manifestaram nestes meses?

 

Não é isto estar de vigília? Não é esta a espera do Natal enquanto se percorre o caminho até ao encontro final?

 

Votos de uma santa caminhada de Advento.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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