A esperança de uma vacina é suficiente?

Crónicas 2 dezembro 2020  •  Tempo de Leitura: 2

A promessa de várias vacinas possíveis veio trazer-nos uma esperança nova. Aquilo por que tanto rezámos e pedimos parece estar cada vez mais perto. Cada vez menos distante. Cada vez mais a um passo de ser verdade.

 

Foram muitas as noites dos últimos dez meses em que desejámos que, na manhã seguinte, tudo estivesse como sempre esteve. Foram muitas as manhãs em que acordámos para perceber que, afinal, o silêncio era o mesmo. A insegurança, também. O medo continuava preso ao pulso como um balão vermelho que nos lembra que o caos ainda agora começou.

 

Vamos acendendo luzes nas nossas casas, nas árvores que decorámos mais cedo para não pensar tanto no que se apagou de nós nos últimos tempos.

 

Comovemo-nos com os anúncios de Natal das empresas mais conhecidas que, como nós, se tentaram adaptar ao presente que vivemos hoje.

 

Sentimos que temos de deixar nevar alguma normalidade branca e luzidia por cima das coisas. Por cima dos nossos dias.

 

Será que a vacina chega? Será que a vacina será suficiente para nos tornar felizes outra vez?

 

A vacina será, certamente, um passo importante para uma eventual solução de futuro. Trará, este Natal, o presente que todos queríamos e que talvez nunca tivéssemos querido tanto. A expectativa é enorme. Mas a saúde não é a mesma. Os dias também não. Os cafés centenários fecharam portas. Os donos de restaurantes de topo estão acampados no seu sofrimento e no tudo que lhes falta. Os médicos e enfermeiros que não conjugam, há muito, o verbo descansar. Os professores que perderam o Norte ao que devia ser a sua profissão e se tornaram estagiários numa nova realidade.

 

A vacina vai trazer-nos muito. E ainda bem. Mas não nos vai trazer tudo. O prejuízo de tudo o que ficou por dar, por pagar e por viver está, ainda, por medir.

 

Enquanto isso, limpamos o pó ao nosso presépio e, desta vez, optamos por deixá-lo nascer dentro do coração.

 

Lá ao longe, a estrela de Belém prepara-se para fazer casa em nós.

 

Que chegue e que nos trespasse! Não temos medo da Luz!

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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