Que Carnaval é este?

Crónicas 16 fevereiro 2021  •  Tempo de Leitura: 3

E que Carnaval!...

 

O Carnaval define-se como um tempo de brincadeira, de disfarces, de máscaras, de pequenas transgressões e, acima de tudo, um momento de festa. As suas raízes são distantes e inspira-se em tradições profanas. Desde as suas origens, tem-se caracterizado pelo gozo indisciplinado de todos os tipos de prazer. Além disso, as máscaras, as cores e as festas sempre tiveram um valor simbólico que sugere a vitória sobre as forças das trevas, sobre o inverno e a proximidade da primavera. 

 

A etimologia da palavra diz-nos que vem do latim carne-levàmen - afastar-se da carne -, ou de càrrus navalìs - carruagem naval sobre rodas. Uma coisa é certa, a palavra transmite-nos que é um momento de novidade em comparação com o tempo normal. Um momento em contraste com o cansaço do trabalho, com o passar do tempo, o medo, a ordem, a economia. Um momento de abundância em oposição a momentos de escassez e, em particular, de sobriedade, de recolhimento, de reflexão. Um curto período de imprudência.

 

Este ano a realidade é bastante persuasiva. Se "no tempo em que éramos felizes e não o sabíamos", bastava sair de casa e ficaríamos enredados em uma densa teia de coisas para fazer e coisas para não fazer, de hábitos e regras. Hoje, o confinamento pandémico, justifica por si só, uma maior quantidade de normas e regras que impedem o grito livre: «É carnaval e ninguém leva a mal!»

 

E as máscaras?

 

Os psicólogos provavelmente têm muito a dizer sobre esta questão. Porém, na minha maneira de ver, até a máscara faz parte daquele universo de imposições do qual queremos nos libertar. Queremos libertar-nos assumindo uma imagem diferente da nossa do dia a dia. 

 

Como todos os eventos simbólicos, também o carnaval pretende brincar com a dura realidade para a qual se volta amanhã. Sonhos de liberdade sem limites são necessários. Mas não podemos viver infinitamente de sonhos.

 

E então, vivemos hoje o carnaval? Ou apenas nos queremos libertar das máscaras que nos últimos tempos são-nos impostas para nossa proteção e viver o quotidiano sem estes exageros de regras, de normas, proibições e distanciamentos?

 

Nestes dias dou comigo a pensar que este carnaval já dura à muito tempo. Precisamos de enveredar pela vida em plenitude, não sujeita ao imediato, ao curto prazo porque este tem sido fatídico, carnavalesco. Precisamos de vida em abundância que não é este inebriamento momentâneo, mascarado… Uma vida em que possa dizer: «Se quiseres, podes curar-me». E uma mão estendida me toque e uma voz me diga: «Quero, fica limpo». (cf Mc 1, 40 - 45)

 

Depois do carnaval, a Quaresma. Depois das máscaras, as cinzas.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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