Nunca és tu!
Nunca somos nós que discriminamos.
Nunca somos nós que olhamos de lado. Que temos segundas intenções. Que adivinhamos sentidos terríveis nas entrelinhas das palavras dos outros.
Nunca somos nós a cometer os erros que criticamos nos outros.
Nunca somos nós a fechar as portas. A fazer que os outros se sintam mal.
Nunca somos nós a atirar as primeiras pedras. As primeiras farpas. Os primeiros golpes.
Nunca somos nós a desistir. A atirar a toalha ao chão. A dizer que, por ali, não vamos mais.
Nunca somos nós a não querer saber. A não amar mais e melhor. A deixar para trás e a não olhar de volta.
Nunca somos nós a fechar o coração. A dizer que não damos mais oportunidades. Que já chega e que dar a outra face é para os fraquinhos.
Nunca somos nós. São sempre os outros que nos atacam. Que nos julgam. Que nos deixam. Que nos abandonam. Que nos amam pouco. Que não (nos) suportam. Que não têm paciência. Que não querem fazer um esforço.
Nunca somos nós a fazer queixas. A falar da vida dos outros e a avaliá-los, erradamente, por todas as coisas que não sabemos deles (nem queremos saber).
Nunca somos nós a apanhar o autocarro do pouco. A voar baixinho e a não querer arriscar a pele.
Nunca somos nós a ficar parados.
Nunca somos nós, pois não?
Ou seremos?