Ninguém sabe mais do que eu!
Não gostamos que os outros tenham coisas para nos ensinar. Sentimo-nos frágeis, perdidos, como se tivéssemos perdido o controle de tudo. Como é que alguém ousa querer saber mais do que eu? Mais do que a minha razão? Mais do que a minha arrogância?
Não conseguimos dar espaço aos outros para que nos digam que não temos sempre razão. Que há coisas que podemos não saber. Que nos enganamos e que isso não tem que nos diminuir, não tem que nos encolher o coração nem tem que nos fazer sentir que somos mais pequenos do que, na realidade, somos.
Fomos educados para não errar. Para não cair. Para não vacilar. Para não dar razão aos outros. Para não pedir desculpa. Para mostrar uma segurança intelectual que, muitas vezes, nem sequer chega a ser embrionária. Como é que ficámos assim? Quando é que deixámos de encontrar espaço (dentro de nós) para a humildade do eu-não-tenho-que-saber-tudo-nem-quero?
Algures no caminho que fomos fazendo, perdemo-nos. Revirámos os olhos perante a audácia daquele que ousou corrigir-nos. Dizer-nos que não era assim. Que sabia mais (e melhor!) do que nós.
Julgo que nos falta percorrer um caminho longuíssimo até alcançarmos a clareza de espírito que precisamos: não é necessário saber tudo. Não é necessário fechar a porta a todas as coisas que podemos aprender com os que se cruzam connosco. Não é justo, também. Que vida seria a nossa se descobríssemos tudo sozinhos?
Somos maiores de cada vez que nos calamos para ouvir os outros.
Somos maiores de cada vez que nos dispomos para aprender.
Somos maiores, mas sem nunca deixarmos de ser pequenos.
É essa a beleza de tudo.