Aberta a porta do coração, o que pode confinar o nosso pensamento e o nosso agir? Nada. A nossa vida, a vida dos outros e a vida do próprio planeta depende da abertura do nosso coração. O seu palpitar faz fluir o sangue que corre nas veias e leva todos os nutrientes que precisamos para viver. Também se os nossos pensamentos e acções estiverem embebidos do mesmo fluir vital, renovam-se as estruturas, renovam-se os relacionamentos, e acende-se a luz sobre o próximo passo a dar.
Manter a mente aberta não é fácil. O conforto das nossas seguranças cristalizam o nosso modo de ver o mundo e a sua dinâmica. Sair das zonas de conforto é o impulso de quem se encontra sempre na disposição de aprender coisas novas. E só na descoberta de coisas novas mantém-se a nossa mente aberta.
Manter a acção aberta não é fácil. Por vezes, implica acolher a acção do outro, diferente da nossa, ou até oposta à nossa. Agimos por sentirmos possuir a razão de agir. Sabemos (ou pensamos saber) que a nossa acção é a mais correcta. Mas só uma acção aberta está disposta a deixar-se transformar pela acção do outro, de tal modo que a acção final não provém de mim, ou do outro, mas dos dois.
Manter abertas as palavras implica colocar-me primeiro no lugar do outro antes de as pronunciar. As palavras abertas são as que revelam novos horizontes e espaços de possibilidade. São palavras que suscitam no outro o desejo de falar, também, com palavras. São palavras de nos ligam, mas mantêm a nossa ligação aberta e disposta a acolher a sabedoria contida nas palavras daqueles que se cruzam no nosso caminho.
Manter a porta aberta pode dar ao sofrimento do outro um ponto de referência ao qual pode sempre retornar. Quem encontra aberta a porta e deseja entrar sente-se acolhido. Mas as portas não se reduzem aos lugares, ou os dividem, antes, unem-os. O exterior ao interior, independentemente do sentido. E são um sinal de acesso a um mundo de surpresas que se encontra do outro lado.
Manter as mãos abertas para acolher o que o outro nos quiser oferecer, ou oferecer o que as nossas contêm ao outro. Mãos vazias oferecem-se. Só podemos dar uma mão para ajudar se estiver aberta. Só podemos consolar com um toque no ombro do outro se abrirmos a mão. Só tocamos o rosto do outro para lhe demonstrarmos o nosso carinho com uma mão aberta.
Manter os braços abertos é uma mensagem clara ao outro de como lhe quero bem. Braços abertos revelam uma posição de vulnerabilidade. São um sinal de um acto de doação desinteressado e irresistível. Aliás, quem abre os braços para abraçar dificilmente volta atrás nessa decisão. É, por isso, um salto na confiança de que o outro acolhe a minha vulnerabilidade.
Manter a escuta aberta significa retirar todos os filtros dos preconceitos que tenho em relação ao que escuto. Requer uma atenção particular às ideias, emoções e razões do outro. Mantém-me vazio para poder, verdadeiramente, acolher o pouco de si que o outro me quer oferecer. Uma escuta aberta estabelece a confiança e com essa estreitam-se os laços que nos unem e nos entusiasmam a superar os maiores obstáculos.
Mas não posso esquecer que existem feridas que abertas continuam a magoar. Ou que fendas abertas no terreno seco continuam a dividir e a afastar, ou se essas fendas estiverem abertas no casco de um barco, podem afundá-lo. Existem processos que se abrem, mas mantêm por tanto tempo abertos que não dão espaço a novos processos. Há aberturas que têm limites e só um discernimento aberto pode ajudar-nos a perceber o que fazer.
Por fim, sê uma página aberta. Aberta para que os outros possam escrever o que mais os perturba e, assim, encontrar, de novo, o sentido da sua vida. Uma página aberta ao imaginário que os sonhos contêm e nos levam a pensar tudo se inventa e reinventa, e o impossível só demora mais tempo. Uma página aberta para estimular o fluir da história através do espaço aberto à novidade que existe no coração de cada pessoa que interage connosco. Uma página aberta que pode deixar-se modelar no origami dos contornos que transformam o vazio e o nada, em algo que embeleza o mundo à sua volta. E se uma página aberta se junta a outras páginas abertas, perfazem um caderno aberto à criatividade de Deus, e onde Ele pode desenhar um futuro novo e deslumbrante.
Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
Quando era jovem, estava no 12ºano, fui a uma conferência de astrofísica no Instituto Superior Técnico em Lisboa. A acompanhar estava um amigo mais velho dos escuteiros e os seus colegas universitários que se voltaram para mim e disseram—«Sabias que, de acordo com a mecânica quântica, neste momento,
Já existem relógios ópticos. Por isso, muitos começaram a sentir a necessidade de redefinir o segundo. O desafio é enorme, mas todos acham que vale a pena. Ao redefinir o segundo, os cientistas passam a ter medidas mais precisas e consideram que isso pode mudar toda a nossa visão do mundo. Não é cla
Estaremos ainda abertos à experiência de Deus do modo que Ele quiser? Ou estaremos demasiado entretidos nesta era digital, de tal modo que essa questão deixou de passar pela nossa cabeça? Pela oração, amor aos outros com gestos concretos, ou fazer bem aquilo que temos para fazer agora, são algumas d