No século XIII, os árabes começaram por chamar-lhe sifr e o significado era “intervalo” ou “vazio”. Depois, os de língua latina chamavam-lhe de ziphrium, mas ao longo do tempo, também essa palavra evoluiu para zero. Por isso, na origem desta palavra está um intervalo posicional. Mas com o zero, a matemática ganhou um novo sentido e sem ele nada é. Aliás, ele representa o “não-é” que “é”. Mas continuou a evoluir.
A dimensão de um ponto é… zero. E quando a arte começou a introduzir a perspectiva, encontrou a forma de dar tridimensionalidade à tela bidimensional ao convergir as linhas dos seus cantos para um ponto, o ponto de fuga. E se as linhas convergirem até esse ponto, a noção que temos é a de infinito. Logo, a arte inventou o modo de fazer do zero desenhado num ponto, um infinito.
Quando colocamos um zero à esquerda, o número não se altera. Logo, um zero à esquerda nada vale, e daí a expressão que, por vezes, e infelizmente, podemos usar em relação a certas pessoas. Um zero à direita tem o efeito oposto. Quantos mais zeros, maior a ordem de grandeza do número de que fazem parte. E qual o objectivo da matemática ao usar os zeros à direita senão o de tentar chegar ao infinito que a arte consegue com quatro linhas apenas? Mas, por mais zeros que coloquemos à direita, o número será sempre finito e haverá sempre espaço para colocar mais um zero. Foi neste impasse que a matemática teve uma ideia.
Se pegar numa pizza e dividir em pedaços cada vez mais pequenos, dou pedaços de pizza a cada vez mais pessoas. Que isso dizer que, conforme o tamanho desses pedaços se aproxima de zero, mais se aproxima o número de pessoas para o infinito! E, assim, um a dividir por zero dá infinito, assim como 1 a dividir por infinito, dá zero. Zero e infinito são o inverso um do outro.
Quem assenta qualquer coisa sobre nada chega ao infinito, assim como quem assenta algo sobre infinitas coisas acaba com nada. Tu e eu, que somos humanos, temos um desejo inexplicável de infinito, mas só se nos colocarmos por debaixo de algo, e formos nada, é que conseguimos realizar esse desejo. Parece um paradoxo que seja preciso nada-ser para saciar o desejo de infinito. Mas nada és. Nada sou. E isso até nem é mau.
Quando vemos uma cadeira vazia dizemos que ali não está ninguém. É o zero que se senta. O ninguém que é zero. E depois vemos escrito como frase feita que ninguém é perfeito. Mas quem é que quer ser ninguém? Alguém?
Quem se faz presente discretamente, ou se faz presente abertamente, cria um espaço vazio, um intervalo, para que todos os que estão à sua volta encontrem a liberdade, o acolhimento, o espaço ideal para se expressar genuinamente. Descobrem-se com o nosso ser nada, ser zero.
Se Deus é infinito, como pode tornar-se finito sem que isso implicasse ser um zero? Um nada de amor que se retrai para criar o espaço de existência de algo e alguém, distintos de si. O nada pelo nada é niilismo. O infinito que assenta sobre o nada impulsiona-nos ao infinito. Não é retórica, mas matemática.
Há quem tenha medo do zero porque pensa muito naquilo que possui, mas aqueles que procuram a sobriedade na sua vida, gradualmente, o zero direcciona o seu estilo minimalista. Aliás, não será essa a direcção do design com o qual nos cruzamos diariamente através dos nossos ecrãs? Não é para a “Fome Zero” que muitas organizações estão a trabalhar? Não é pela “Pegada Zero” que queremos transformar o nosso estilo de vida para que seja mais sustentável, e poluir zero para garantir a saúde dos ecossistemas terrestres?
O zero parece ser nada, mas as aparências iludem. E quando queremos viver bem o presente, é como se o intervalo de tempo fosse… zero. Afinal, espero que se entenda melhor por que razão o zero, não-sendo, é mais do que pensamos.
E se alguém um dia te disser — «és um zero!» — responde — «e sobre este nada que sou assenta a possibilidade de seres infinitamente mais do que pensas.» Ser zero é uma lição que aprendo cada vez mais e melhor d’Aquele que, abandonado na cruz, fez de todo o nada, um ponto (de dimensão nula) de luz infinita que iluminará o mundo para a eternidade, onde zero e infinito se tocam no coração de Deus.
Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
Quando era jovem, estava no 12ºano, fui a uma conferência de astrofísica no Instituto Superior Técnico em Lisboa. A acompanhar estava um amigo mais velho dos escuteiros e os seus colegas universitários que se voltaram para mim e disseram—«Sabias que, de acordo com a mecânica quântica, neste momento,
Já existem relógios ópticos. Por isso, muitos começaram a sentir a necessidade de redefinir o segundo. O desafio é enorme, mas todos acham que vale a pena. Ao redefinir o segundo, os cientistas passam a ter medidas mais precisas e consideram que isso pode mudar toda a nossa visão do mundo. Não é cla
Estaremos ainda abertos à experiência de Deus do modo que Ele quiser? Ou estaremos demasiado entretidos nesta era digital, de tal modo que essa questão deixou de passar pela nossa cabeça? Pela oração, amor aos outros com gestos concretos, ou fazer bem aquilo que temos para fazer agora, são algumas d