Quando puderes, trava a fundo!
Quando puderes, sossega. Senta-te à beira do que precisas de fazer e não faças nada. Abre um livro e lê. Ou olha só para ele pela vontade simples de o ver. Respira fundo e sente o privilégio de deixar o ar entrar e sair.
Quando puderes, acalma-te. Lembra-te que a pomba branca que faz casa no teu coração precisa de silêncio para crescer. Precisa de ver o vento a tocar nos malmequeres brancos que crescem sem pedir autorização a nenhum rei ou ministro.
Quando puderes, chora. Para limpar o que ainda está sujo dentro de ti. Para deixar escorrer o tempo mal gasto, mal empregue, mal pensado, mal gerido. Para deixar sair tudo o que não foi dito, tudo o que não gritaste, todas as vezes em que não reagiste por não ser adequado.
Quando puderes, adormece. Cala os sonhos e os projetos. As urgências e as horas pseudo extraordinárias. As burocracias. Os e-mails por responder. Os telefonemas para devolver. Os problemas para resolver. Fica só contigo. Com a paz que vem do Céu. Com o silêncio que nos diz tudo quando não sabemos ser nada, dizer nada, fazer nada.
Quando puderes, sossega. Diz que fica para outro dia. Que hoje não. Que desta vez vais escolher-te a ti em primeiro lugar. Diz que o dinheiro não compra o sossego e o bem estar e, muito menos, o amor. Diz que fazes quando te apetecer. Ou que não fazes. Ou não digas nada, se achares que não vão entender.
Quando puderes, escolhe-te a ti. Pensa por ti. Faz por ti. Toma as tuas decisões sem esperar que o façam na tua vez. Escolhe o teu caminho. Duvida sempre. Confia o suficiente mas guarda-te de ser cego no que diz respeito ao que os outros são.
Faz tu. Faz tudo por ti. Sempre.
Quando te chamarem egoísta, sorri apenas e deixa voar aquela pomba branca que faz casa no teu coração.