As pontes que (nos) caem
O que fazes com o que te atravessa a alma sem pedir autorização? Deixas que passe, como uma nuvem, ou esperneias até soprar o desconhecido para longe?
O que (te) dizes quando és culpado de fazer cair as pontes arrumadinhas que construíste dentro de ti? Assobias silêncios ou convences-te de argumentos que te favorecem?
O que fazes quando és culpado de fazer cair as pontes bonitas que os outros trazem por detrás dos olhos? Fazes de conta que não foste tu ou procuras formas de reerguer o que fizeste cair?
Somos bons na teoria. Somos bons a papaguear valores, tolerâncias, igualdades e liberdades. O que quase nunca fazemos bem é passar da teoria à prática.
O que quase nunca fazemos bem é cumprir, com o coração, o que a boca atira de qualquer maneira e sem filtro.
Apregoamos a liberdade mas encontramos formas de nos aprisionar dentro de rotinas e dias sempre iguais. Apregoamos a igualdade mas olhamos duas vezes para os que são diferentes de nós. Para os que são menos comuns. Para os que decidem o que nunca teríamos coragem de decidir.
Somos excelentes pessoas até nos virem bater à porta com dilemas morais, com desconfortos, com injustiças e com mentiras tecidas por nós. É por isso que as pontes nos caem. Porque, na verdade, nunca chegaram a sê-lo.