O lugar do outro não me fala!
O lugar do outro diz-me pouco. A história que os outros me contam sobre si próprios não faz estremecer as minhas paredes de dentro. Guardo-me de sentir compaixão para não me incomodar, para não perturbar a não verdade dos meus dias.
Demito-me de querer sentir o que o outro sente para não me atormentar. Para (não) compreender que nem tudo o que se passa à minha volta converge a meu favor ou me diz respeito.
Não somos dos outros. Giramos em torno de nós próprios inebriados por uma luz que julgamos ter. Que bonita é a minha imagem e o meu reflexo quando espelhados à sombra da escuridão que os outros são.
Não nos damos conta do quanto nos separámos. Uns podem afirmar, assertivamente, que a falta de empatia aumentou com a chegada do Covid. Outros dizem que foi a tecnologia que nos desumanizou, que nos fez robots perante os sentimentos e as emoções ou a falta deles.
Na verdade, julgo que os motivos que nos trouxeram até aqui são, seguramente, irrelevantes. O que contará é ousar fazer diferente a partir do que vemos (e temos) agora. Se sabemos que nos separámos, como voltaremos a aproximar-nos? Se sabemos que não estamos juntos, como será possível voltarmos a estar?
Claro que não poderemos viver só para os que nos rodeiam nem ter a ilusão de um altruísmo inconcebível. Mas podemos estar mais atentos. Podemos ouvir sem julgar. Podemos dar sem cobrar. Podemos tentar salvar mais vezes o que parece irremediável. Podemos olhar nos olhos mais vezes. Segurar na mão de quem está perto como quem sabe que, às vezes, um dia melhor pode depender disso.
Temos corações embrionários no que respeita ao cuidar dos outros. Somos projetos de pessoas no que respeita ao argumentar ou discutir sem magoar nem ferir. Temos tanto para aprender (sobre tudo). Mas a verdadeira pergunta é esta:
Estaremos dispostos a isso?