Ninguém sabe quando tudo muda
Ninguém sabe quando o tapete debaixo dos nossos pés pode decidir falhar-nos.
Ninguém sabe quando mudam todas as regras do jogo que a própria vida parece ser.
Ninguém sabe, ao certo, o que está guardado para si, depois de se rasgar mais uma folha daquele calendário de mesa.
Não sabemos quando será o dia em que a doença decide visitar-nos e fazer casa em nós. Ou quando decide acampar entre os nossos.
Não sabemos quando será o dia em que a morte se veste de cerimónia para vir buscar-nos. Ou para levar um dos nossos.
O que sabemos é que nunca estamos prontos. Não estamos prontos para as mudanças, para atirar a toalha ao chão. Não estamos prontos para perder, para ficar doentes, para chorar a partida de alguém.
O que sabemos é que, quando menos esperamos, o pano fecha-se e as luzes apagam-se sem pedir autorização a nenhum astro. A nenhuma estrela.
De que serve ter consciência disso? De que serve estar a estas horas do dia a pensar em morrer e em viver? Em estar doente ou ter saúde?
Serve para acordarmos. Para percebermos que o que hoje visita a casa de um desconhecido pode, amanhã, vir bater à nossa porta. Serve para despertar. Para perceber que não somos daqui e que não há lugares marcados neste território de viver. Somos todos temporários. Fugazes. Aprendizes que nunca chegam a saber o suficiente para deixar de se espantar com esta aventura louca que são os (nossos) dias.
Enquanto não acordamos, a vida passa. Muda e quieta. A roubar dias, a plantar rugas, a obrigar-nos a comprar truques para disfarçar o envelhecimento do corpo e da alma.
Enquanto não levantamos os pés do chão, a vida rebola sobre as nossas cabeças. Vai avisando. Dizendo que vai sendo tempo de fazer diferente aqui. E ali. E seguimos apressados como quem tem horas para chegar ao dia de ser, finalmente, feliz.
Enquanto o dia de ser feliz não chega, chegas tu?