O que tu sofres não me dói!
Podemos, até, ser os mestres da empatia.
Podemos, até, conseguir sentir na pele um rasto da ferida que agrava a pele do outro.
Conseguimos, até, colocar-nos no lugar do outro e julgar que conseguimos imaginar o que sente, o que pensa perante o que sente, o que lhe dói perante o que não consegue entender.
Essa é, já, uma capacidade extraordinária e louvável. Chegar perto do sofrimento do outro. Querer sentir o eco do que incomoda a vida e os dias dos que nos rodeiam. Essa atitude diz muito sobre nós. E diz muito bem.
No entanto, e até a dor visitar a nossa própria pele, não sabemos nada sobre a dor do outro. Fazemos, simplesmente, uma (muito) pequena ideia.
Até sermos nós a experimentar o sofrimento por causa disto ou daquilo, não saberemos, de verdade, o que habita o coração dos que nos rodeiam.
Quando somos nós a viver uma dor, uma provação ou um desafio difícil de interiorizar é que conseguimos, de facto, saber o que o nosso irmão viveu. É aí, nesse momento de profunda (e forçada) aproximação à semelhança da dor alheia que compreendemos tudo. É aí que tudo fica simples, por ser tão doloroso. É aí, nesse degrau que subimos e em que os nossos pés encontram os dedos dos passos dos outros que, na verdade, somos irmãos. É aí que, na verdade, somos amigos.
Enquanto os nossos passos se tocam neste ou naquele sofrimento, neste ou naquele confinamento, nesta ou naquela falta de liberdade ou de amor, os nossos olhos têm a coragem de olhar em frente. E é aí, quando encaramos com verdade a verdade dos olhos de quem está à nossa frente que seremos (e somos!) profunda e inegavelmente humanos. Iguais. Gémeos siameses na dificuldade.
Enquanto a dor do outro não me doer a mim, eu não sei nada sobre ele. Mas imagino.
Enquanto a prisão do outro não retirar a minha liberdade, eu não sei nada sobre ela. Mas imagino.
Enquanto a saudade do outro não cravar raízes dentro do meu peito, eu não sei nada sobre ela. Mas imagino.
Se só o simples facto de imaginar já é difícil… imagina vivê-lo.