Somos peritos em humanidade? Qual a Missão da Igreja?
Qual é a utilidade da Igreja Católica no mundo de hoje?
Aquela ideia ou perceção da sociedade cristã ou cristianizada já se diluiu naquilo a que chamamos de secularização. Tantas vezes temos a sensação que a "vida corre" sem necessidade de Deus…
Quem estudou a História do Cristianismo, sabe que com a conversão do império romano a partir de Constantino, a Igreja "aburguesou-se". Pelo menos, uma parte dos cristãos pensou que "estava tudo feito". Esta ideia, voltou várias vezes ao longo da história. Quem viveu o tempo do salazarismo, pensou o mesmo: "A Igreja está na vanguarda do desenvolvimento civil, politico, filosófico e cientifico".
O problema é que vivemos numo mundo cada vez mais relutante à fé….
Esta minha reflexão vem a propósito das últimas eleições… Voltando à história do cristianismo…
O Concílio de Trento, realizado com o surgimento da Reforma Protestante, onde o poder político se entrelaçava com o poder eclesiástico, acabou por colocar o mundo e a Igreja em dois caminhos progressivamente divergentes. O Concílio Vaticano II tentou remendar, aproximar estes dois, mas… Tarde demais. Atualmente, parece-nos que a Igreja corre atrás do prejuízo…
E quando digo Igreja, estou a dizer, todo e qualquer cristão na sua singularidade. Não me refiro apenas à igreja hierárquica, nos seus bispos, padres e demais consagrados.
Neste tempo, ou nestes tempos, qual é a missão da Igreja?
Creio que não é a defesa do próprio aparelho eclesial; não é a defesa da sua história, com os seus momentos deslumbrantes e as suas sombras densas; não é a promoção direta ou indireta de partidos políticos; não é a aliança com os poderes deste mundo.
Antes demais, qualquer cristão é responsável pela consciência da nossa finitude. E é responsável por advertir todo e qualquer ser humano desta realidade! Deve cultivar a consciência da finitude, do limite, do outro, da interdependência… A tentação da omnipotência humana está-se a desenvolver ao mesmo tempo que a evolução do conhecimento científico e tecnológico. E não creio que a pandemia tenha mudado esta perceção.
É a tentação do Homem Deus.
Cultivar o sentido dos limites significa o acompanhamento vigilante e crítico de toda aventura humana que a experiência do desenvolvimento técnico-científico está a gerar. E que nestes últimos tempos vai muito além das fronteiras humanas vividas até ao século XX.
Precisamos de católicos, ou, permitam-me, de cristãos cada vez pais ativos nas suas comunidades - sejam elas de vivência da fé ou do mundo do trabalho; sejam elas de vida em sociedade ou de envolvimento político - na consciencialização que "o mundo são três dias". Passa tudo muito rápido. Somos um sopro…
Como escreveu o Papa João XXIII, precisamos de cristãos que vivam uma Igreja como Mãe e Mestra de Humanidade. Humanidade concreta e real. Finita.
Resta saber se os cristãos, os seus padres, as suas paróquias, os seus bispos estão cientes desta missão…