Como lidar com o que não se compreende?

Crónicas 2 fevereiro 2022  •  Tempo de Leitura: 2

Podem ser muitos os momentos em que não conseguimos lidar com o que nos acontece. De repente, fogem-nos as seguranças de debaixo dos pés, varrem-se-nos as certezas e julgamos ver uma onda, que rima com tsunami, no horizonte. Atravessam-nos mundos em cacos, telhados de vidro e de dor, paredes de espanto e de amargura.

 

Como lidamos com o que não compreendemos? Com o que vem sem avisar e sem notícia?

 

Não lidamos. Nem sempre é possível ter coragem para enfrentar o que aparece. Às vezes é só necessário ter um colo onde poisar, uma presença onde descansar os braços, as guerras, as lutas e todas as tristezas que venham e cheguem.

 

Nem sempre conseguiremos lidar, de peito feito, com o que nos acontece. Às vezes somos, simplesmente, varridos por este ou aquele acontecimento. Por esta ou aquela onde. O que importa é ter quem nos console. Encontrar, no meio da confusão e do rasto de destruição, aqueles que nos sustentam o coração quando ele nos quer saltar do peito e desaparecer para sempre.

 

Às vezes só temos que deixar que a onda passe. Que nos varra para, depois, nos recompormos. O importante é ter presente que não estamos sozinhos. Não sofremos sem a companhia dos que sofrem connosco. Não estamos órfãos de colo e de conforto.

 

Quando não soubermos lidar com o que não compreendemos, resta-nos esperar. Deixar-nos ser frágeis e pequenos. Deixar passar o vento da tempestade. Deixar que os relâmpagos se cansem de rebentar dentro da alma e da pele.

 

Dizem que tudo passa. Não é verdade. Há dores que não passam. Há marcas que não se apagam. No entanto, somos feitos das vezes em que nos morrem partes para, depois, nascerem outra vez. De outra forma.

 

Enquanto a tempestade não passa, agarra-te aos que te são tudo. Com unhas. Dentes. E coração inteiro.

 

Mais à frente é outro dia.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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