Com a mesma Cruz!
Nos últimos dois anos caminhámos juntos, com a mesma Cruz. Atravessámos confinamentos e fomos atordoados por uma doença que, ainda que nos vá roubando algumas coisas, já não nos rouba tudo. Perdemos para o COVID até conseguir ganhar terreno e alguma segurança. Perdemos mães. Pais. Tios. Avós. Irmãos. Maridos. Amigos. Mulheres. Companheiros. Velhos e novos. Ricos e pobres. Numa roleta russa que não nos queria dar tréguas.
Nesta semana vamos avançando com o peso dos nossos sofrimentos, das nossas dores e dos lutos que ainda trazemos por fazer. Consola-me que não caminhamos sozinhos. Connosco segue Aquele que também teve que trilhar sofrimento e mágoa com uma Cruz às costas.
Que saibamos, durante esta semana, fazer uma Via-Sacra do coração. A partir de dentro. Olhar para o que ainda temos como ferida aberta, ver (sem medo) aquilo que temos de feio e de cicatriz. Enquanto olharmos para o que não compreendemos, para o que ainda nos magoa e ofusca, desejo que saibamos fazer as pazes com os nossos sofrimentos internos e que saibamos deixá-los pregados na mesma Cruz dAquele que, mais uma vez, quer dar a vida por nós.
Numa altura em que a humanidade parece estar a ser posta à prova e em que tantos seres parecem ter pouco de humano ou de sensível, olhamos também para este tempo interminável de guerra. De guerras. Desta que assola a Europa e das outras todas que não saem nos jornais. Que possamos ser testemunho de esperança e de paz, mesmo quando esta não existir ou parecer tardar em chegar e instalar-se.
Atravessamos um tempo de deserto, de espinhos, de provocações dolorosas e aparentemente arbitrárias. No entanto, nada do que é mau pode durar eternamente. Até a Cruz de Jesus se transformou em Céu e em vida.
Também nós, depois destes dias de silêncio e de dor, somos chamados a ser a novidade da alegria e da esperança. É essa que será capaz de rasgar o Céu tenebroso que parece querer cair sobre nós.
No final, vencerá o Bem. Não tenho dúvida alguma.