De quantas expectativas somos feitos?
Não é a vida que nos desilude. Ou as pessoas. Ou os cenários. Ou mesmo as viagens de sonho que pensávamos que íamos fazer.
Não é o trabalho que nos desilude. A profissão. A vocação. A vida familiar. Ou a vida consagrada. O que nos desilude é o tamanho das nossas expectativas. O que nos desilude são as esperanças pouco condizentes com a realidade. Aquilo que idealizamos. Aquilo que esperamos de mão estendida, ainda que não haja ninguém pronto para nos dar coisa alguma.
O que nos dificulta a vida não são as pessoas, mas, antes, as expectativas que temos sobre elas. De que nos sejam fiéis. De que não falhem. De que correspondam. De que sejam o mais perfeitas possível.
O que nos trava o quotidiano não é a rotina nem o trabalho que rima com a mesmice do costume. São as expectativas. A esperança que tínhamos de que nos iam ouvir. De que nos atendessem todos os pedidos. A vontade de mudar tudo quando éramos só nós que estávamos preparados para um feito dessa natureza.
O que nos bloqueia e nos derruba são as expectativas. E a diferença abismal do que acontece para o que gostaríamos de ver acontecer.
Talvez nos ajude o exercício de esperar menos. De nos deixarmos surpreender pelo que ainda está por suceder. Enquanto não confiarmos no processo, por muito que este inclua a nossa própria dor ou mágoa, não viveremos alinhados com o que pode haver. Com o que pode ser.
Gostávamos que tudo fosse como planeamos. Como imaginámos quando tínhamos a força de tantos sonhos. Mas sabemos que não é possível. Que tudo nos pode varrer a tranquilidade enquanto perdemos tempo a imaginar cenários de perfeição.
É quando não se espera nada de ninguém que as pessoas são capazes de nos surpreender profundamente. E pela positiva. E pelo bem.
É preciso esperar menos. Ir andando sem ter sempre tudo definido nos quadrados castradores das expectativas. Das preocupações.
Quem nos dera sabermos viver como tem de ser. E esperar (só) o que tiver de vir.