Liberdade! O que é isso para mim, cristão?
Escrevo esta crónica nos últimos minutos do dia 25 de Abril. Muito se fala de liberdade, ainda que "enviusada". Cada um defende-a segundo os seus princípios e orientações pessoais ou comunitárias/associativas.
Recordei uma figura maior do catolicismo do século XX: Teresio Olivelli, que ainda esta segunda-feira foi lembrado na catedral de Spezia, norte de Itália. Teresio foi um homem sempre atento à Palavra Incarnada. Não teve dúvidas em mudar de opinião ou de vida quando os valores que defendia não coincidiam com o Evangelho. Durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto membro da resistência, escreveu a seguinte oração:
«Senhor, que deixastes entre os homens a Vossa Cruz como um sinal de contradição; que pregastes e sofrestes a revolta do espírito contra a perfídia e os interesses dominantes, surdez inerte da massa, oprimidos por um jugo oneroso e cruel que em nós e antes de nós pisaram-Te, fonte de vida livre, dai força à rebelião.
Deus que sois a Verdade e a Liberdade, fazei-nos livres e intensos: dai-nos força no nosso propósito, dai-nos força à nossa vontade, multiplicai a nossa força, revestei-nos com a vossa armadura.
Nós oramos a vós, Senhor.
Vós, que fostes rejeitado, injuriado, traído, perseguido, crucificado, na hora das trevas, sustente-nos a vossa vitória: sejais encorajamento aos desamparados, apoio no perigo, conforto na amargura. Quanto mais o adversário se torna pesado e escuro, mais nos deixais claros e retos.
Na tortura comprimi os nossos lábios – despedaçai-nos, não nos deixeis dobrar. Se cairmos, fazei que o nosso sangue se una ao vosso sangue inocente e àquele dos nossos mortos, para fazer crescer no mundo a justiça e a caridade.
Vós que dissestes: “Eu sou a ressurreição e a vida” refazei a vida generosa na severa dor da Itália. Libertai-nos da tentação dos afetos: Velai sobre as nossas famílias.
Nas montanhas de vento e nas catacumbas das cidades, das profundezas das prisões, nós te pedimos: que haja em nós a paz que só vós podeis dar-nos.
Deus da paz e dos exércitos, Senhor que carregais a espada e a alegria, ouvi a nossa oração.
Os rebeldes por amor.»
Esta oração pode, ainda hoje, iluminar o nosso caminho: "faz-nos livres e intensos" ao distinguir o agredido do agressor; “faz-nos livres e intensos” na pesquisa e remoção das causas de qualquer conflito; “faz-nos livres e intensos” ao dizer que as armas nunca trouxeram e nunca levarão à paz; "faz-nos livres e intensos" ao aceitar os sacrifícios para deter a mão de Caim, "faz-nos livres e intensos" ao pedir que a união cristã esteja ao serviço da verdade e que não justifica mentira nenhuma.
Votos sinceros de verdadeira liberdade.
No Portugal de hoje precisamos, mais do que nunca, desta imparcialidade para com as nossas ideologias e as nossas satisfações egocentristas e autossuficientes. Precisamos de novos Teresios Olivelli's…