De Igrejas Vazias

Crónicas 21 junho 2022  •  Tempo de Leitura: 3

«Nós continuamos a viver as nossas vidas como se os valores de referência fossem os mesmos da societas christiana das gerações passadas. Continuamos a celebrar-nos, a fazer das nossas liturgias espetáculos. Continuamos a deleitar-nos com multidões que, embora evidentes, são estatisticamente irrelevantes.

 

Continuamos a pensar em improváveis ​​mudanças de tendência apenas porque em algum lugar há um aumento muito pequeno de vocações para o ministério ou para a vida consagrada. Continuamos a pensar nisso em termos de ambientes tranquilizadores como as paróquias, associações, movimentos, talvez investindo nestes últimos, dada à sua dimensão presencial eficiente e visível.

 

Estamos satisfeitos com nossas igrejas na aparência, com a nossa boa gente cujo nível de informação religiosa não ultrapassa o jardim de infância. Não percebemos que corremos o risco de ficar de fora do curso da história.»

Cettina Militello

 

Lembrei-me desta teóloga siciliana ao ler um entrevista que D. Carlos Azevedo deu a um meio de comunicação social.

 

O bispo português trabalha para a Santa Sé, no Conselho Pontifício para a Cultura, desde 2011. No departamento dos bens culturais, ocupa-se de arquivos, biblioteca, museus e toda a parte de património imaterial, onde entra a música. Mas um dos seus trabalhos mais complexos que tem que lidar é o das igrejas sem fiéis. O que se pode fazer? Na Holanda, por exemplo, 80% das igrejas não tem culto. E como não há recursos financeiros, não se podem cuidar.

 

Tantas igrejas vazias… O mesmo começa a acontecer em Portugal. Tenhamos a coragem de o admitir. Somos cada vez mais uma minoria.

 

Depois de séculos em que a fé cristã foi professada e vivida por grande parte da população das nossas comunidades, percebemos que nossa realidade é plural. Os indiferentes à religião cresceram imenso. Mas não é só isso, também os diferentes apareceram nas nossas aldeias, vilas e cidades, homens e mulheres que acreditam num Deus diferente do Deus de Jesus Cristo. Os cristãos hoje, são apenas uma parte de um todo. Perceber isso realmente, e agir pastoralmente, é algo que exige muito esforço. A secularização é galopante e a pandemia acabou por afastar ainda mais pessoas. Citando o Papa Francisco: "É preciso ir ao encontro das pessoas". Não há mal em sermos poucos.

 

O mistério cristão permanece como pano de fundo genérico para as ações de quem crê. Mas na maioria das vezes, a crença funciona como um 112. Recorremos à fé quando já não temos respostas na esperança humana…

 

Mas a Esperança Cristã é muito mais que um cenário do teatro que parece ser a nossa vida. Ela nasce do encontro pessoal com Jesus Cristo.

 

«É a pequenez e a insignificância de Jesus que, uma vez aceite como manifestação do Deus vivo, abala e renova todas as nossas categorias». (Cardeal Carlo Maria Martini)

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail