A ditadura do pensamento positivo
Parece não haver espaço para pensar de outra forma que não seja a que rima com otimismo e positividade. Levaram-nos a crer que é errado chorar, que não devemos mostrar o que sentimos e que, se o fizermos, devemos mostrar sempre uma versão bonitinha, sublinhada daquele cor-de-rosa das nuvens que vemos nos desenhos animados.
No entanto, a vida não é nada disso. Não é uma paisagem bonitinha nem simples, na maioria das vezes. Tem escarpas capazes de rasgar joelhos ou almas, trilhos que nos fazem perder o rumo e o norte, armadilhas que nos fazem resvalar todas as certezas e ideias pré-concebidas. É nesses dias que não precisamos que nos digam coisas como:
“não fiques assim”
“olha para o lado bom de tudo isto”
“pensa positivo”
Pensar positivo quando o que se sente é, precisamente, negativo é mascarar com uma mentira aquilo que se diz e que se é.
Pensar positivo como resposta a todos os problemas é, na realidade, criar mais um.
É preciso olhar com respeito para os nossos pensamentos negativos. Para o mau. Para a raiva que pode existir. Para a tristeza. Para o desânimo. E encontrar espaços sérios e seguros dentro de nós para lidar com isto. O pensamento positivo não é, de certeza, uma solução.
A ditadura do positivismo deixa-nos uma sensação de não pertencer, de não estar certo (ou válido) sentir o que sentimos. E essa sensação deixa marcas e feridas que podem, depois, apodrecer e ganhar formas demasiado feias.
Que saibamos pensar positivo quando for tempo disso e que saibamos “pensar negativo” quando sentirmos diferente do bom, da alegria e do que for feliz.
Há espaço para tudo o que és.
Há espaço para tudo o que somos.
Ou, pelo menos, devia haver.