É tão difícil desejar o bem!
Como é que podemos desejar o bem a quem nos fez mal? Como é que podemos desejar que a vida corra bem a quem fez questão de piorar a nossa? E que obrigação tenho eu de querer o bem a quem me quer mal?
Perguntas difíceis, certo?
No entanto, julgo que são perguntas que nos vamos fazendo (mesmo internamente) ao longo da vida. Quando fazemos a pergunta, no entanto, já temos a resposta viciada. Perguntamos como quem quer legitimar o facto de desejar mal a quem nos deu, também, o mau.
Não sejamos hipócritas. Desejar o bem a quem nos fez mal é uma utopia. Ou um feito quase digno de alguém que já roça um perfil de santidade. O que é natural é não querer saber daquela pessoa. Não ouvir sequer o nome dela. Se nos magoam, como vamos, depois, ser bonzinhos? Ou devolver o oposto do que nos deram?
Na impossibilidade de desejar o bem a quem nos magoou, que possamos pedir para conseguir (um dia) fazê-lo. Desejar o bem é desejar que seja a vida a decidir o que quererá dar àquela pessoa. Não é a mim que me cabe julgar, apontar, desejar intempéries ou desgraças. A mim cabe-me reconstruir-me depois do que me fizeram. A mim chega-me ser capaz de ver além da ferida. Ser capaz de querer ver além da mágoa. Não por quem me fez mal ou me magoou. Mas por mim. Sou eu quem merece ter a certeza do não merecimento da mágoa. Mas também não pode faltar a certeza de que voltarei a magoar ou a ser magoado.
Desejar o bem a quem nos faz mal é das coisas mais difíceis desta vida. Mas é possível. Pensemos no Papa João Paulo II que conseguiu perdoar a quem atentou contra a sua vida. E que conseguiu transformar uma bala (que podia ser de morte) num florescimento de vida e de amor.
Se não consegues, ainda, desejar o Bem, entrega ao Céu. É o único lugar que saberá o que fazer contigo. Com as tuas dores. Com os teus males. E é o único lugar que os pode transformar em Bem.