Louvor-respiro
O Bitcoin é uma moeda totalmente digital inventada em 2008 por uma pessoa ou grupo desconhecidos. Existe uma cadeia de blocos e a ligação entre blocos tem de ser consistente. Quando se faz a “prospeção do minério-bloco-digital”, o novo bloco só entra na cadeia de blocos (blockchain) se contiver uma “Prova-de-Trabalho” (PoW - Proof-of-Work) que exige dos mineiros um nounce (número usado apenas uma vez) de tal modo que este número ligado ao bloco resultem num valor numérico mais baixo do que o “alvo-dificuldade” (difficulty target) da rede. A prova é fácil de programar, mas o tempo de processamento de computador para a gerar consome uma enorme quantidade de tempo de computação e, consequentemente, consome enormes quantidades de energia. Dessa energia, mais de metade provém de combustíveis fósseis. O preço a pagar para gerar moeda digital é elevado.
Existe muita literatura a alertar para os efeitos nocivos de uma vida artificializada, onde o contacto com a natureza é tão escasso que nem nos sentimos parte dessa, mas à parte. Porém, o papel que a tecnologia digital representa na nossa vida continua a crescer. Recentemente, participei numa reunião de projecto que seria impossível de realizar com a presença de todos naquela data. E, apesar de não ser a mesma coisa, reconheço que alguma troca de ideias é melhor que nenhuma. Ou se não fosse a capacidade de comunicação que os telemóveis oferece, não teria sido possível à minha esposa contactar-me para resolver um problema com a bateria do carro que me prejudicaria imenso se não fosse resolvido com urgência. Por isso, a tecnologia que artificializa a nossa vida não é má em si mesma. Se não fosse a tecnologia, esta reflexão não chegaria ao leitor. Onde está o equilíbrio?
No seu livro “Sonhos Árticos” (não traduzido para português), o escritor americano Barry Lopez partilha que —
«olhava para oeste na direcção do Mokka Fiord, para uma cadeia de lagos entre duas cúpulas de gesso esbranquiçadas. Além encontrava-se um solo padroado com a tundra mediamente húmida. Os castanhos e pretos e brancos eram tão ricos que os conseguia sentir. A beleza naquele lugar era uma beleza que se sentia na carne. Sentia-la fisicamente, e essa era a razão de ser terrivelmente difícil de nos aproximarmos dela. Uma outra beleza tomaria somente o coração ou a mente.Eu perdi por longos momentos o meu sentido do tempo e propósito como ser humano. Nas paredes de Axel Heiberg encontrei o que conhecia das montanhas quando era criança. Isto é, não existem palavras para expressar o conhecimento recebido das montanhas. Apenas, vagamente, orações.»
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