Viver para pagar contas e morrer?

Crónicas 5 outubro 2022  •  Tempo de Leitura: 2

Não foi para isto que viemos cá. Não é para isto que andamos a ver documentários de slow living, de como aprender a meditar, de como viver para o essencial. Não viemos cá para pagar contas e morrer. Ou será que fomos enganados e, afinal, é esse o futuro que nos espera?

 

Quero acreditar que não. Que as contas para pagar são uma distração. Que o aperto que muitos começam a sentir (com a subida de tudo) seja temporário, um pesadelo que há de revelar-se pouco condizente com a realidade a longo prazo.

 

De outra forma, que vida seria esta se aqui tivéssemos vindo para isso? Para viver como quem não sabe se terá o dia de amanhã? Como quem não sabe se terá a sua casa no dia seguinte? Como quem não sabe como fará as compras para o mês seguinte?

 

Talvez nos ajude virar um pouco o foco para outras coisas, ainda que não possamos retirar importância às que antes referimos.

 

É preciso virar a luz para o lado de dentro. É a única forma de conseguir iluminar os que, como nós, têm medo de viver às escuras.

 

Não podemos convencer-nos que a vida é apenas isto. Estes dias de roda do rato de onde ninguém consegue sair ileso.

 

Quero acreditar que no meio do caos, das contas, das preocupações e das lutas diárias, haverá espaço para brindar sem ter medo do dia seguinte. Espaço para abraçar os nossos sem ter medo da iminência de lhes falhar. Espaço para investir no descanso do corpo e da alma. Espaço para receber o que não cabe em extratos ou taxas Euribor.

 

A vida é demasiado bonita. Demasiado cara para ser gasta com dinheiro e com poder(es).

 

Havemos de conseguir ultrapassar os dias menos bons.

Havemos de conseguir dar ao coração aquilo que o mundo não sabe dar.

 

Vira o foco de luz para dentro.

 

É assim que consegues iluminar os que andam, também, às escuras… como tu.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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