Como tens estado?
Quase nunca respondemos com verdade a esta pergunta. Dizemos sempre que estamos bem. Que vamos andando. Que desde que haja saúde está tudo como deve estar. Que não nos dói nada e que devemos dar graças por isso. Fomos ensinados a estar bem a todo o custo. A sorrir mesmo quando nos apetece franzir a testa e não falar com ninguém.
Ninguém nos ensinou a pedir ajuda. A dizer que não estamos bem. Dizer que se está mal não fica bem nas fotografias. Os divórcios. As doenças. As separações. As vidas por um fio. A morte. As dívidas. As lonjuras. Tudo isso cai mal aos que vivem de aparências. Mas de tudo isso é feita a vida.
No entanto, a verdade é que somos feitos de tudo. De estar bem e de estar mal. De dias de mar da Nazaré e de dias de mares de Monte Gordo. Dias de ouvir e dias de falar. Dias de brindar e ser feliz e dias de chorar e maldizer a sorte. Dias de ter força e fé e dias de apetecer desistir. Dias de dar graças e dias de porquê-a-mim. Somos feitos de caras bonitas e simpáticas e de caras feias e maldispostas.
Numa semana em que comemoramos o Dia Mundial da Saúde Mental, é preciso forçar espaço para abrir janelas diferentes. Para encontrar palavras para dizer que podemos estar mal e pedir ajuda. Que os dias tristes não duram para sempre e que, se durarem mais do que nos parecer saudável, podemos dar a mão a quem nos saiba dar outra cor aos dias.
Não estamos sozinhos. A vida é bonita, mesmo quando é feia. Aquilo que sentimos já alguém terá sentido também. Quase tudo se pode ultrapassar ou atenuar com a ajuda certa e as pessoas certas.
Não estás sozinho. Há espaço para o bom e para o mau. Para o bonito e para o horrível. Para olhar para o trauma e para contemplar a cura. Para expressar o que se sente e para guardar o que não se diz com palavras.
Que saibamos começar a ensinar as nossas crianças a saber falar do que sentem e a não condenar o que dizem. Que saibamos ser crianças outra vez para poder aprender aquilo que ninguém nos soube ensinar.
Estar mal também vale. Está bem?