Há uma pobreza que nos torna ricos

Crónicas 15 novembro 2022  •  Tempo de Leitura: 3

Porque falamos tanto de pobrezas, "Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus" (cf. Lc 6, 20), voltei à mensagem do Papa para este VI Dia Mundial dos Pobres

 

Francisco identificou dois tipos de pobreza: «A pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos. É a pobreza desesperada, sem futuro, porque é imposta pela cultura do descarte que não oferece perspetivas nem vias de saída». E a pobreza que liberta, que reside no amor mútuo. que nos faz carregar os fardos de ambos, para que ninguém seja abandonado ou deixado só: «Ao contrário, pobreza libertadora é aquela que se nos apresenta como uma opção responsável para alijar da estiva quanto há de supérfluo e apostar no essencial».(cf. nº8)

 

A pobreza é um conceito muito multifacetado. Atualmente vivemos em um tempo paradoxal, porque por um lado tem aumentado a esperança de vida e de bem-estar para um grande número de pessoas, mas por outro aumenta também a injustiça, a desigualdade, a exploração do planeta e de outros seres humanos. Neste sentido, podemos afirmar que o Papa Francisco é a única voz conhecida a nível internacional que percebeu esta estreita relação entre os diferentes tipos de pobreza e a degradação ambiental e humana.  Está tudo intimamente ligado: a riqueza aumenta, mas sem equidade o que provoca o aparecimento de novas pobrezas.

 

O aumento do desperdício, da poluição do planeta que torna o meio ambiente cada vez mais inóspito e inabitável, gera migrações climáticas, problemas de saúde nas camadas mais pobres da população, aumento da temperatura, redução da biodiversidade…

 

Grande paradoxo! Vivemos uma época em que o ser humano, com sua atividade, modifica e destrói as próprias condições de sobrevivência. Portanto, esta é a pobreza que mata.

 

A pobreza que dá vida, envolve a libertação de tudo o que não é essencial; uma pobreza que aproxima o homem de Deus, onde tornar-se pobre é caminhar com Ele e como Ele é.

 

A caridade, despojada de tudo o que é supérfluo, é uma resposta ao mundo em que vivemos, à miséria material e espiritual. É resposta à complexidade dos tempos e surge como a cura, em que estar junto a, estar ao lado de, permite um novo olhar sobre a realidade e sobre nós.

 

A vida de cada um de nós não é uma ilha, estamos todos ligados. O tempo que vivemos é um tempo que tem de ser de encontro, de fraternidade e solidariedade. Isso permitir-nos-á ser um pouco mais irmãos, que partilham o tempo e os bens, sem superioridade, mas que vivem o serviço mútuo e a partilha da vida e da fé.

 

É preciso deixar-se "tocar" pela vida dos outros, aprendendo de Jesus aquele amor e aquela compaixão que sabem ver o essencial com um novo e profundo olhar. Um amor que sabe construir pontes, e que permite-nos construir a família humana onde todos podemos encontrar a felicidade.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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