O tempo oportuno (kairos) não se controla porque depende do momento presente. É acolhido e desafiante. Mas o tempo sequencial (chronos), medido pelos relógios nos pulsos de quase todas as pessoas neste planeta, ou através do ecrã do seu telemóvel, não é menos desafiante. E, por isso, sentimos a necessidade de que seja um tempo gerido. Quais as motivações para viver bem este tempo?
No tempo sequencial, muitas pessoas queixam-se e dizem — «não tenho tempo.» Quando pensei a fundo nesta frase tão dita por tantos, veio-me um princípio simples que considero a base do tempo gerido: onde há uma razão, há tempo.
Existem três coisas que nos podem ajudar a encontrar as razões.
1. O valor de 1 minuto. No discurso de inauguração do ano académico de 2002, na Universidade de Dartmouth, Fred Rogers, um homem marcante da televisão americana pela profundidade oferecida nos seus programas para crianças, disse —
«Eu gostaria de vos dar um dom invisível. O dom de um minuto de silêncio para pensarem naqueles que vos ajudaram a ser quem são hoje. Alguns poderão estar presentes aqui e agora. Alguns poderão estar longe. Alguns, como o meu professor de Astronomia, poderão estar no céu. Mas onde quer que estejam, se te amaram e encorajaram, e quiseram o que eram melhor para a tua vida, eles estão dentro de ti. E eu sinto que vocês merecem o tempo de quietude (…) dedicando algum pensamento a eles. Por isso, tiremos um minuto em honra daqueles que cuidaram de nós ao longo do caminho. Um minuto de silêncio…»
Se todos os dias dedicássemos um minuto de silêncio a sermos gratos, a pensarmos naqueles que marcaram a nossa vida, ou ainda pensarmos nas razões que preenchem o nosso tempo, compreenderíamos melhor se merecem a atenção que lhes damos ou não.
2. O valor da direcção. Quem define uma direcção, encontra a razão. Quer isso dizer que uma vida desenhada com as circunstâncias leva à realização de uma forma que uma vida à deriva ou dirigida não consegue. Uma vida à deriva apesar das circunstâncias leva à desilusão. Uma vida dirigida pelas circunstâncias leva à exaustão. E desenhar a nossa vida passa por uma maior consciência do modo como nos orientamos em cada dia. Benjamim Franklin, um dos pais fundadores dos EUA, deitava-se às 22h e levantava-se às 5h, dormindo 7h que tem sido o recomendado para uma boa higiene do sono. Cada dia era orientado por duas questões. A primeira feita no início — «que bem irei fazer hoje?» — e a segunda no final do dia — «que bem fiz eu hoje?» A partir do momento em que desenhamos no dia anterior, o dia seguinte, gradualmente, e independentemente de cumprirmos ou não, ficamos mais cientes de como está orientado o nosso tempo e o que podemos fazer para o gerir melhor.
3. O Círculo Dourado. Em 2010, Simon Sinek deu uma das TED talks mais vistas e inspiradores do mundo sobre, precisamente, como é que os grande líderes nos inspiram a agir. Nessa conversação refere uma ideia: o círculo dourado. Muitos sabem “O QUE” fazem (e desenha um círculo grande). Alguns sabem “COMO” fazem (e desenha um círculo mais pequeno no interior do grande). E poucos são os que sabem “POR QUE RAZÂO” fazem (e desenha um círculo no interior dos outros dois). Aplicado ao tempo:
- “O QUÊ?”… muitos sabem que têm tempo.
- “COMO?”… alguns sabem como usar o tempo.
- “POR QUE RAZÃO?”… poucos sabem porque usam o tempo.
Enquanto uma boa parte das pessoas pensa no tempo que tem, desenvolvem o modo de o viver e talvez percebam a razão daquilo que experimentam no tempo. Os que dedicam “um minuto de silêncio” a “desenhar a sua vida”, começam o tempo gerido com a “razão”, o “porquê” que os move e os transforma.
Existem muitos livros que falam de muitas técnicas para gerirmos melhor o nosso tempo. Alguns desses procuram ajudar-nos a encaixar tudo o que temos para fazer (e mais alguma coisa) dando-nos a (falsa) sensação de sermos muitos produtivos. Mas raros são aqueles que nos põem a pensar nas razões que orientam as escolhas que afectam directamente o modo como experimentamos o tempo.
O tempo gerido merece ser tempo vivido. E quem vive para o tempo, acaba consumido. O tempo gerido pelas razões, oferece-nos uma liberdade insólita para sincronizar o nosso tempo com o tempo dos outros, sem que ninguém se submeta a ninguém. Por vezes, isso implica olhar menos para os ponteiros do relógios de pulso, e mais para o pulsar do coração onde coabita o sentimento com a razão.