Qual será o presépio verdadeiro?

Crónicas 13 dezembro 2022  •  Tempo de Leitura: 3

No Advento anterior a esta pandemia da Covid-19, a correspondente dos assuntos no Vaticano do jornal francês La Croix,Isabelle de Gaulmyn, escreveu o seguinte: 

 

«Neste período do Advento, é difícil evitar as sinistras aldeias/mercados de Natal. Não há cidade na França que escape desse contágio. À parte, claro, Estrasburgo, onde a força da tradição confere-lhe uma certa dignidade, somos condenados a vaguear pelos centros históricos das cidades entre casas de madeira que imitam cabanas de montanha (mas que relação pode haver com o nascimento de um homem que teve lugar no Médio Oriente há dois mil anos?), olhando com cansaço para a extensão de bugigangas "made in China", e comendo a nossa maçã caramelizada toda vermelha. Sem falar na música, um "Vive le vent" (música com as notas de "Jingle bells") repetido até a exaustão, desde que se tome cuidado para não colocar nenhum cântico da Natividade. Rapidamente, na multidão compacta, o cheiro de vinho quente e canela torna-se insuportável, a menos que você beba o suficiente para esquecer: esquecer o Natal do nosso tempo, com brilhantes, pinheiros enfeitados e música adocicada, mas sem estrela e presépio. Esquecer este Natal sem Natal…»

 

Acreditei que com tudo o que se passou, e se passa ainda; com a guerra na Ucrânia; ou com a crise económica que se aproxima, estaríamos melhor nesta quadra em que apelamos à partilha e à fraternidade, à paz e ao amor…

 

Precisamos urgentemente de aceitar o convite contido na carta apostólica Admirabile signum, assinada por Francisco durante sua visita a Greccio em 2019. O Natal é a manifestação de Deus no rosto humano. Rosto para acolher, contemplar, acariciar. Se quem se reconhece cristão começasse a libertar-se da fachada de tantos símbolos religiosos, já quase insignificantes, mais funcionais para o comércio do que para o crescimento humano, e aprendesse a saborear a humanidade de Jesus Menino, o seu testemunho seria mais autêntico.

 

Reconhecer Jesus, nos rostos das crianças violentadas por familiares e amigos, e tantas vezes institucionalizadas em centenas de lares por esse país fora… Não será esse o verdadeiro presépio?

 

Aprender a encontrar no rosto de cada ser humano sofrido um fragmento daquela humanidade que na sua fragilidade se fez dom para todos… Não será esse o verdadeiro presépio?

 

São presépios inestéticos, crianças com um olhar triste, mães e pais exaustos, pobreza, miséria, fome, frio. São presépios que não dão vontade de parar, de admirar ou mesmo de se emocionar. Preferimos desviar o olhar, envergonhados…

 

Porém, observando com fé e até espanto, o menino Jesus colocado na manjedoura (presépio), juntamente com Maria e José, os pastores e todas as outras personagens, podemos perceber, mesmo com todos os nossos sentidos do corpo, a grandeza do amor de Deus que escolheu entrar a nossa história como um dos mais fracos, indefesos, marginalizados, rejeitados, para que todos, sem exceção, sintam-se preciosos diante Dele.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail