𝙀𝙪 𝙥𝙚𝙘𝙖𝙙𝙤𝙧 𝙢𝙚 𝙘𝙤𝙣𝙛𝙚𝙨𝙨𝙤!
Confesso que, naquele dia 19 de abril de 2005, a minha primeira reação ao ouvir «Annuntio vobis gaudium magnum; habemus Papam: Sanctæ Romanæ Ecclesiæ, Cardinalem Ratzinger qui sibi nomen imposuit Benedicti Decimi Sexti», não foi a melhor.
Esperava uma novidade. Alguém que não fosse assim tão conhecido. Que não fosse da Cúria do Vaticano. Alguém que nos surpreendesse com palavras como as do Papa João Paulo II: «Non abbiate paura! Aprite, anzi, spalancate le porte a Cristo!» (Não tenhais medo! Abri, melhor, escancarai as portas a Cristo!). Muito menos alguém conhecido como conservador, retrógrado...
Nestes dias muito se diz e escreve sobre Joseph Ratzinger ou Bento XVI, mas para mim, convertido ao magistério deste Douto sucessor de Pedro, saliento duas grandes obras que nos deixou: a sua encíclica Deus Caritas Est (Deus é Amor) e a sua Renuncia ao pontificado a 28 de fevereiro de 2013.
Da primeira faço apenas uma citação que me marca imenso até hoje:
«O homem torna-se realmente ele mesmo, quando corpo e alma se encontram em íntima unidade; o desafio do eros pode considerar-se verdadeiramente superado, quando se consegue esta unificação. Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente a sua grandeza. O epicurista Gassendi, gracejando, cumprimentava Descartes com a saudação: “Ó Alma!”. E Descartes replicava dizendo: “Ó Carne!”. Mas, nem o espírito ama sozinho, nem o corpo: é o homem, a pessoa, que ama como criatura unitária, de que fazem parte o corpo e a alma. Somente quando ambos se fundem verdadeiramente numa unidade, é que o homem se torna plenamente ele próprio. Só deste modo é que o amor — o eros — pode amadurecer até à sua verdadeira grandeza.» (nº5)
Da segunda, fica para a Igreja o sinal claro que qualquer função eclesial é um serviço e não uma manifestação de poder, porque pelo batismo todos somos filhos de Deus. Todos somos por Ele eleitos e todos devemos fazer a Sua vontade.
«Depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor». Primeira saudação depois da eleição como Papa, 19 de abril de 2005
«O meu verdadeiro programa de governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me contudo à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta hora da nossa história». Homilia no dia da Entronização, 24 de abril de 2005
Sem dúvida que brevemente será proclamado Doutor da Igreja, não só pelo que deixou escrito, mas também pelo exemplo como terminou o seu serviço como sucessor de Pedro.
Bento XVI, Rogai por nós!