A Cultura do Cuidado e do Diálogo como Percurso de Paz
Perante os últimos acontecimentos que têm assolado a sociedade portuguesa, políticos com problemas com a justiça ou as greves que abalam a escola pública, voltei à mensagem do Papa Francisco do Dia Mundial da Paz de 2021.
Cuidar da política pareceria uma batalha perdida e estaria já perdida se não encontrássemos razões para reagir ao pessimismo e à resignação; se não tivéssemos a coragem de abrir novos caminhos de pensar e agir para o bem comum. Não é nada cristão!
Construir uma cultura do cuidado para erradicar a cultura da indiferença, do desperdício e do confronto que hoje prevalece, é o caminho principal ao qual somos chamados para reconstruir a política, para passar da denúncia à escolha responsável. Para fazer da política um instrumento de paz e de justiça.
São palavras atiradas ao vento? Certamente que esta minha esperança está fundada no desejo de que todos nós queremos abandonar o ambiente de confronto e abraçar o do diálogo; queremos abandonar as frases feitas e usar a razão; queremos esquecer o interesse individual e olhar ao todo; queremos esquecer o supérfluo e colocar o foco no essencial.
Recordo ainda as palavras de Francisco pronunciadas em 2016, quando lhe foi atribuído o prémio europeu "Carlos Magno": «Se há uma palavra que devemos repetir até nos cansarmos, é esta: diálogo».
A promoção da cultura do diálogo, num mundo multicultural e multi-conflituoso como o de hoje, pode ser a solução para a reconstrução do tecido social, para o reconhecimento do outro não como "diferente de nós", desconhecido, mas como interlocutor válido e alguém que merece ser ouvido, considerado e valorizado, numa estratégia de integração, e não de exclusão, e que pode ser feito no quotidiano, nas ruas, nas escolas, nos espaços públicos...
Uma responsabilidade que recai sobre todos nós. Uma tarefa árdua e não imediata, mas que no entanto pode voltar a renovar a esperança num futuro melhor.