Só tens o dia de hoje!
Não há mais. Só o dia de hoje e o momento presente pode ser, realmente, teu. O resto é pó. Lume já feito cinza ou chama que ainda ninguém viu.
Aproveita para sentir o que quer que esteja a habitar o teu coração. A tua vida e os teus dias. É isso que te ensinará o que precisas para enfrentar o momento que te é dado a viver. Respira a tristeza. Ou a incompreensão. Ou a raiva. Ou a injustiça. Ou a dor. Ou a alegria. Ou a euforia. Ou a tranquilidade. Respira o que quer que esteja dentro da tua alma. É isso que é suposto viveres, entregares. Mais: é isso que é preciso que vejas neste momento. O resto não existe ou nunca existiu.
Só tens o dia de hoje.
As folhas acastanhadas a dançar entre duas brisas contrárias que, por acaso, se encontraram.
Os pardais que procuram alimento no chão que pisas sem te dar(es) conta.
As gaivotas que trazem o sal do mar e das ondas preso às penas mais ou menos sujas.
As crianças que se mascaram e que ainda acreditam que o mundo há de ser delas e que as vai deixar ser o que quiserem, sem nunca as julgar.
O barulho das cadeiras da esplanada.
O copo que se senta na mesa do costume.
As pessoas que chegam e que abraçam os seus.
Tu, que vais para abraçar quem amas.
A viagem de regresso.
O sossego de ter tudo por não saber nada.
Por não saber se a guerra escala. Se o mundo acaba em água, em terra ou em sol. Se amanhã estamos vivos ou debaixo de escombros. Se a vida nos deixa continuar a ver as gaivotas. E o Tejo. E a ponte desenhada ao fundo. E a Torre de Belém que não combina com scooters e trotinetas.
Mas está tudo certo.
Porque só temos o hoje. Porque somos cegos para o futuro e essa é a maior razão da nossa alegria.