Qual é a minha fé? Quem é o meu Deus?

Crónicas 18 abril 2023  •  Tempo de Leitura: 4

Para mim, a dúvida de São Tomé é fascinante! Sinto a sua teimosia em querer ver, em querer tocar. Às vezes, sinto a descrença dele, sinto a dúvida dele. Sim, dúvida. Palavra que banimos do vocabulário do crente. No entanto, companheira de viagem de muitos que tentam acreditar.

 

Afinal, a fé nunca é uma experiência fácil. Para a maioria das pessoas é uma experiência bem difícil. Mesmo aqueles que estão na Igreja e participam regularmente da sua vida, sentem que a fé não é algo pacífico.

 

A fé é sempre um caminho, uma tensão que muitas vezes vive mais de dúvidas do que de certezas, que muitas vezes tem a conotação de luta com Deus como a célebre passagem de Jacob nos descreve muito bem. (Gn 32, 23-32)

 

Deus é outro, é o Outro, está sempre além, além das nossas experiências, e a única forma de entrar em relação com ele, de continuar a relação com ele, é questionar sempre a situação presente.

 

São muitos os santos que nos deixaram o testemunho das suas noites de fé, das suas lutas com Deus.  Cito apenas uma carta de Madre Teresa de Calcutá: «Dizem que a dor eterna que as almas sofrem no Inferno é a perda de Deus... Na minha alma experimento precisamente esta terrível dor do dano, de Deus que não me quer, de Deus que não é Deus, de Deus que realmente não existe. Jesus, por favor, perdoa a minha blasfémia».

 

O cardeal Martini quando, em 1987, inaugurou em Milão a “Cátedra dos Incrédulos” disse: «Acredito que cada um de nós tem dentro de si um descrente e um crente, que falam um com o outro por dentro, que se questionam, que continuamente enviam perguntas pungentes e perturbadoras um ao outro. (...) A clareza e a sinceridade desse diálogo são um sintoma da maturidade humana alcançada».

 

Porém, é importante perceber, como vemos nos relato de Tomé, que a comunidade dos amigos de Jesus é o lugar onde o Ressuscitado se revela. Na primeira aparição,  Tomé não estava na comunidade. Por isso é que ele exige provas pessoais e diretas. Oito dias depois, está dentro da comunidade e ali se realiza o novo encontro com o Ressuscitado. Tomé que, fora da comunidade, se arriscara a perder, agora já se encontra. Mas isso é possível não pelas virtudes pessoais de Tomé, mas porque o próprio Jesus toma a iniciativa. Com efeito, Jesus convida-o a tocar nas chagas.

 

O texto diz que Tomé pronuncia a sua total e sincera profissão de fé: "Meu Senhor e meu Deus!" que o compromete pessoalmente. Ele repete duas vezes, "meu"! Quer dizer que a Páscoa acontece aqui, na vida deste discípulo.

 

A fé de Tomé é, eventualmente, a situação normal do discípulo. Mas com uma diferença: Tomé acredita porque toca. Para nós é o contrário: tocamos porque acreditamos. Somos chamados a ser crentes maduros que desfrutam das experiências da fé, mas sabem crer mesmo quando faltam as experiências diretas do toque. O crente deve ser como um amante maduro: Eu amo-te e quero ver-te. Mas amo-te mesmo quando não te vejo. Pelo contrário, quando não te vejo, aumenta o desejo de ver-te. E tudo isto em Igreja.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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