Não está sempre tudo bem!
Nem sempre está tudo bem. No entanto, é essa a resposta que continuamos a dar na maioria das vezes em que a pergunta “como estás?” nos é feita.
Mas, então, será que gostamos de mentir?
Julgo que não. Mas gostamos de nos proteger. De nos reservar. De fingir uma versão nossa que, às vezes, só existe mesmo para dar de comer às idealizações dos outros. Não conseguimos dizer a verdade sobre como nos sentimos também por outra razão. Ninguém nos ensinou. Ninguém nos autorizou. Ninguém nos disse que não somos menos por não estar sempre bem.
O problema é que ainda precisamos de aprender que não há nada de mal em ser como somos. Ou em estar como estamos.
Ainda assim, parece-nos mais fácil criar rugas de expressão regadas pelos sorrisos forçados que, tantas vezes, temos de atirar aos outros. Jogamos, todos os dias, uma espécie de jogo do mundo ao contrário:
Estamos mal e fingimos estar bem.
Estamos bem e teimamos em acreditar que, por isso, alguma coisa tem de estar mal.
Queremos seguir a nossa vocação, mas decidimos que vamos continuar reféns do pagamento das mesmas contas.
Brilham-nos os olhos pelos sonhos que trazemos dentro, mas apagamo-nos nas expectativas dos outros, no julgamento dos que passam por nós, nas mentiras que nos contam como verdades.
Entramos no carro, mas o que queríamos era apanhar um avião.
Somos pessoas tranquilas, mas, sem perceber como, os dentes lá nos vão arregaçando as mangas da raiva que nem sabíamos que tínhamos.
Ouvimos podcasts de motivação e empoderamento, mas rendemo-nos ao piloto automático.
Vivemos como podemos. Fazemos o melhor que sabemos. Dizemos o que temos de dizer para sobreviver numa sociedade em que estamos todos a fazer teatro. Vamos caminhando como quem quer acreditar que há de dar tudo certo. Mesmo que uns dias dê. E outros não.