Só se desilude quem, um dia, se iludiu!
Desiludimo-nos muito. É profissão e ocupação para toda a vida. Ninguém nos ensina, no entanto, a lidar com os desfasamentos provocados pelas expectativas que não se encontram (tantas e tantas vezes) com a realidade.
Mas, afinal, de onde chega a desilusão? Há alguma forma de a evitar?
Há alguma prevenção que poderá ser feita mas a verdade é que, mesmo na premeditação e no evitamento da desilusão, haverá sempre espaço para que esta surja e nos arrebate com punhos e dentes.
Vivemos iludidos. Viajamos na ilha das imensas expectativas que criamos sobre as coisas e sobre os outros. Quase nunca batemos certo com o que realmente acontece. Batemos de frente. Somos completamente abalroados pela crueza verdadeira das coisas que nunca imaginámos. Pelos cenários que não desenhámos na imaginação. Iludimo-nos porque queremos acreditar numa versão bonita das coisas. Queremos que tudo combine com o que desejámos e com aquilo para que estamos verdadeiramente motivados. Esse é o princípio de todas as desilusões.
Podemos evitar a desilusão se enchermos menos o copo das expectativas. Do adequar os outros àquilo que somos. Ninguém é como tu. Ninguém viveu a tua história. Ninguém passou pelas mesmas sendas a arder. Pelos mesmos trilhos de pedras e folhas calcadas. Como é que, não vivendo o mesmo que tu, poderão os outros agir de acordo contigo e com o que esperas deles?
Mais vale não esperar nada. Não como quem desiste, mas como quem quer surpreendido pelo que vier.
Enquanto quisermos que a vida nos obedeça, que as circunstâncias rimem com a nossa vontade e que os outros façam o que faríamos no lugar deles… vamos cair no poço do costume. Lá dentro, enquanto esperneamos para sair da pele pegajosa da desilusão vamos prometer-nos não mais criar expectativas. Não mais imaginar cenários que só existem na nossa cabeça.
E quando, finalmente, sairmos do poço retomaremos forças para, mais dia menos dia, cair outra vez.
Que possamos aprender a fazer melhor entre uma queda e outra. Afinal, só se desilude aquele que, um dia, se iludiu.