A vida é (só) um sopro
É isso que a vida é:
Uma vela que se acende e nos recorda que é à luz que havemos de voltar a pertencer.
Uma brisa do vento que nem sabe que passa.
Que nem sabe que existe.
Uma pincelada de uma cor ao calhas.
Uma nostalgia entre o nunca ter o tudo que se quer e o saber que já tudo se tem.
É só isso que a vida é:
Um sopro bonito de quem respira e não sabe.
De quem vê tudo com olhos que têm mestrado em distração.
Um copo fresco por fora a abraçar o corpo do vinho de dentro.
Uma fresta de uma janela em que só reparamos quando se fecha ou faz barulho.
Uma estrela acesa por cima das nossas cabeças enleadas de pensamentos que não valem nada.
Só um sopro.
Uma inspiração profunda e um deixar ir tudo como quem expira o que não interessa, já, ao coração.
Uma almofada quente encostada à pele da alma. Sem queimar e sem arder.
Um brilho de luzes-verdade no meio de tanta mentira.
Um sopro baixinho. Um murmúrio. Um segredo dito por quem nunca soube nada.
Uma casca de uma lima ou de um limão. Que ao mesmo tempo que perfuma faz doer as feridas todas, se as tivermos.
Um fósforo que se acende uma vez só.
Quem nos dera ser só esse sopro. E que só esse sopro nos chegasse para fazer a vida valer a pena.