Que seja tudo por amor

Crónicas 13 setembro 2023  •  Tempo de Leitura: 2

A vida atravessa-nos sem nos pedir autorização. Os desafios são tremendos e só somos preparados para os viver quando nos arrebatam. Quase nunca conseguimos perceber a arbitrariedade da própria vida. Os bons ficam doentes. Os maus ganham mais força. Os bons têm contrariedades enormes e os maus parecem estar sempre no seu melhor.

 

Uma das frases que mais oiço e que mais me faz pensar é esta:

 

“Porque é que as coisas más acontecem sempre aos bons?”

 

Claro que as coisas más acontecem a todos. Só que a verdade é que nos importamos mais com os bons. Com os que dão tudo e que dedicam a vida aos outros. Se os “maus” estão a sofrer isso passa-nos ao lado. Importamo-nos pouco com essa categoria de pessoas. Reparamos na injustiça quando são os “bons” a sofrer. Talvez valha a pena também lembrar que os maiores sofrimentos são, muitas vezes, as maiores catapultas de desenvolvimento pessoal e espiritual. O sofrimento não é gratuito nem ao acaso. É ponte. É lição. É meio para atingir uma outra etapa da vida.

 

Depois, outra reflexão que talvez faça sentido desenhar: o que será isso dos maus e dos bons?

 

É fácil atribuir rótulos extremados. Especialmente se são etiquetas que nos convêm. Estamos sempre do lado dos bons, verdade?

 

Mais do que dividir-nos a todos entre os bons e os maus, talvez seja mais apropriado falar dos mais e menos conscientes; dos mais e dos menos traumatizados; dos mais e dos menos amados; dos mais e dos menos respeitados; dos mais e dos menos cuidados. Se olharmos mais para os outros com estes olhos, talvez consigamos desconstruir muitos dos estereótipos que vamos erguendo dentro do coração, e que nos afastam uns dos outros.

 

A maldade existe, no entanto. É o avesso do amor e da compaixão. E essa sombra só pode ser combatida com mais amor. Com mais cuidado. Com mais respeito e empatia. Também não precisamos de receber a maldade dos outros se não estivermos capazes de devolver amor. Podemos sempre afastar-nos e rezar, depois, por aquilo que não conseguimos compreender.

 

Quando não souberes o que fazer ou como lidar seja com o que for, repete baixinho:

 

“Que seja tudo por amor”.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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