Queremos a paz?
Construir, fazer, são os verbos que facilmente associamos à palavra paz sempre que esta é querida, desejada. Esta construção frásica faz-nos compreender imediatamente e com clareza, uma coisa importante: a paz nunca é dada de uma vez por todas, mas deve ser sempre construída. Com efeito, a paz não é uma condição dada por si, mas é fruto de um processo contínuo, que passa pela construção das fronteiras mundiais, das estruturas económicas, das relações políticas, das escolhas sociais e das relações religiosas.
As primeiras palavras do Patriarca Latino de Jerusalém, o novo Cardeal, D. Pierbattista Pizzaballa, sobre o conflito israelo-palestiniano, são alarmantes: «Estamos numa emergência muito grave e temo que isso leve à guerra. Estamos diante de uma situação muito grave que eclodiu de repente, sem muito aviso. É uma campanha militar de ambos os lados, muito preocupante pelas suas formas, dinâmica e amplitude. Esta é uma notícia muito triste. A tomada de reféns israelitas, um fenómeno que não é de forma alguma justificável só encorajará uma maior agressão de ambos os lados, especialmente do lado israelita.»
Na Faixa de Gaza existem cerca mil cristãos, dos quais, pouco mais de uma centena, batizados na Igreja católica pertencentes à paróquia da Sagrada Família. O pároco é o padre Gabriel Romanelli.
Desde sábado, dia 7, dia do ataque, a pequena comunidade católica reúne-se todas as noites para rezar o Rosário pela Paz. Os fiéis reúnem-se na igreja para a missa e depois rezam o Rosário diante do Santíssimo Sacramento. As crianças fazem o mesmo num pequeno oratório, na esperança de proporcionar-lhes alguns momentos de serenidade nesta situação dramática.
Imediatamente me vêm à cabeça as palavras de Santo Irineu: “O sangue dos mártires é a semente dos novos cristãos.” A Igreja foi e é construída sobre este sangue. As dificuldades e as tribulações fazem parte do ser-se cristão, porque a missão não garante que tudo corra bem. Não garante que o Evangelho e o testemunho cristão sejam acolhidos por todos pacificamente com reconhecimento e aplausos.
O Cristianismo não é uma filosofia, um conjunto de normas, regras, nem o desejo de fazer muitas coisas. É comunhão de vida com o Filho de Deus, que entrou na história, mudou o seu curso e devolveu ao homem o seu destino eterno.
As dificuldades e os obstáculos constituem um desafio à autenticidade da vida cristã, ao testemunho credível de Cristo.
Compreendemos, então, que ser discípulos de Jesus não é um jogo, porque não se trata de fazer boas obras, de seguir um ideal humano, mas do Filho de Deus feito carne, que, para redimir o mundo marcado pelo pecado e todas as suas consequências, fez seu o destino do grão de trigo que morre para trazer vida em abundância.
Compreendemos, então, que estes cristãos palestinianos vivem autenticamente a adesão a Cristo num conflito em que são luz e sal na construção da paz neste conflito que nos parece interminável.
É cristão quem aceita seguir Jesus Cristo em todo o seu caminho e não apenas no que é mais agradável ou acolhedor da sua mensagem e da sua vida. Não existe missão cristã em nome da tranquilidade!
A missão é sempre caminho. É sempre construção.
Rezemos pela paz.