Que nos deixem em Paz!
Quando somos mais pequenos dizemos muitas vezes “deixa-me em paz” quando alguém se excede, quando alguém nos invade os limites ou, simplesmente, nos aborrece ou chateia. Deixamos de ter essa capacidade quando crescemos. Deixamos de dizer quais são os nossos limites, passamos a aceitar tudo e a encolher por dentro a pomba bonita da nossa paz interior.
Depois, por vezes, somos também nós que nos retiramos paz. Armamos conflitos dentro do peito, puxamos o lustro às armas e vivemos artilhados até aos dentes, ou pior, até à pele frágil do coração.
Deixamos que os outros nos tirem a paz e a pomba branquinha torna-se cinzenta, perde as penas e emagrece de tristeza e de solidão.
Num mundo armado de ódio, sangue, lágrimas e desencontros que parecem irremediáveis, somos chamados a ser os primeiros a construir a paz. A reconstruir, desde dentro, o que lá fora parece estar perdido, órfão, moribundo.
Não podemos nada contra a guerra entre Israel e a Palestina, entre a Rússia e a Ucrânia, entre os terroristas e Cabo Delgado e contra tantas outras que as notícias se vão esquecendo de falar. Mas podemos fazer a paz entre os que convivem connosco. Nos ambientes onde nos movemos e movimentamos. Na nossa casa. Na nossa família. Entre os vizinhos ou entre os amigos. Entre os que conhecemos melhor ou pior. Essa paz podemos fazer.
Podemos escolher fazer o Bem quando os outros escolhem enganar-nos e ferir-nos. Podemos escolher a gentileza em vez do espezinhar. A esperança em vez do pessimismo.
Somos chamados todos os dias a fazer melhor e a ser melhor para os outros. E viramos a cara. Preferimos dizer que a culpa é dele. Ou dela. Ou de tudo o que está fora de nós.
Mas ainda somos os protagonistas da nossa vida e é com essa única história que nos é dada a escrever que ainda podemos fazer diferente. Ainda vamos a tempo de mudar as coisas. De mudar o curso deste rio que vai enfurecido, tingido do sangue e da vida de tantos os que já se perderam.
Não te percas tu também.
Faz a paz. Sê a paz.