Como se caminha para a cura?
O caminho para a cura é lento. Demora. Tarda para quem tem pressa. O que gostávamos mesmo era que o caminho fosse rápido. Que não fossem precisas tantas ligaduras. Que não fosse necessário tanto tempo e tanta luta. Mas a verdade é que qualquer processo de cura demora mais do que aquilo que estamos capazes de esperar.
Como é que caminhamos para a cura com tudo o que o processo implica?
Em primeiro lugar é preciso ter a coragem para olhar para dentro. Perceber que feridas precisam de ser vistas, que golpes precisam de gritar, que tampas precisamos de destapar.
Depois, é preciso ter coragem para sentir o que nos dói. Seja antigo, seja novo, seja denso, ou seja, leve. E essa é, sem dúvida, a parte mais difícil. No entanto, é uma curva necessária. É preciso agarrar bem o corpo e deixar que o caminho se siga mesmo que seja por onde mais dói.
Só a partir da consciência das feridas será possível curá-las. Mais. Só a partir dessa consciência e desse amor será possível chegar a amar essas mesmas dores.
Num mundo completamente perdido e sem noção daquilo que é o cuidado pelo outro, daquilo que é a dimensão da ferida alheia, precisamos de nos curar primeiro para depois enviar essa energia para os outros. Se todos nós conseguíssemos olhar para nós de forma amorosa e menos hostil, tornaríamos possível o amor pelos outros. Se olhássemos para nós com menos julgamento, conseguiríamos encarar o outro como ele é e não com o julgamento das decisões que tomam ou tomaram.
Não conseguimos resolver os conflitos mundiais, as crises económicas, as guerras horríveis que nos entram corpo adentro todos os dias. Mas há uma coisa que está ao nosso alcance: fazer a paz e tornar possível a cura a partir de dentro.
O mundo só muda quando mudamos a partir da alma.
Se queremos fazer alguma coisa pelo horror que vivemos mundialmente, podemos começar por nós.
Quando nos colocarmos em primeiro lugar saberemos, sempre, encontrar o lugar certo.