Que a morte nos lembre de viver!

Crónicas 21 novembro 2023  •  Tempo de Leitura: 2

Não nos habituamos à morte.

 

A partida de alguém é sempre um susto. Um trago de ar que se engole e que não se deixa respirar. A alma fica suspensa numa espécie de tumulto capaz de nos fazer rever tudo e olhar para as coisas de outra maneira.

 

Não sabemos onde colocar a morte. E incómoda. Faz ferida e deixa, tantas vezes, a vida em carne viva. Não sabemos por onde ir. É como se a nossa bussola interna se desorientasse e as agulhas entrassem numa loucura sem retorno.

 

No entanto, sabemos que vivemos com a morte de mãos dadas com os dias que somos e temos. Vamos sendo visitados por ela, mais ou menos proximamente e vamos reajustando as nossas vidas quando a vemos pousar.

 

Mais do que pensar na morte, da qual não podemos escapar, faz-nos falta pensar mais na vida.

 

No quanto a tomamos por garantida.

 

No quanto a julgamos por certa.

 

Nas imensas vezes que nos esquecemos de dizer amor aos que são nossos.

 

No quanto vivemos apressados e sem rumo.

 

No quanto nos deixamos enredar por ritmos que não condizem com o do nosso coração.

 

Que saibamos fazer-nos um convite diário para não nos esquecermos de viver.

 

Que a morte nos lembre que tudo passa e que nada se pode repetir.

 

Que a morte nos lembre que as nossos podem não estar cá muito tempo e que devemos dedicar-nos a cuidar melhor deles.

 

Que a morte nos faça esquecer as brigas, as tristezas e as guerras e ser protagonistas de paz e de amor.

 

Ainda vamos a tempo de viver melhor hoje.

 

Para que um dia possamos dizer à morte que vivemos tão, mas tão bem.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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