Que a morte nos lembre de viver!
Não nos habituamos à morte.
A partida de alguém é sempre um susto. Um trago de ar que se engole e que não se deixa respirar. A alma fica suspensa numa espécie de tumulto capaz de nos fazer rever tudo e olhar para as coisas de outra maneira.
Não sabemos onde colocar a morte. E incómoda. Faz ferida e deixa, tantas vezes, a vida em carne viva. Não sabemos por onde ir. É como se a nossa bussola interna se desorientasse e as agulhas entrassem numa loucura sem retorno.
No entanto, sabemos que vivemos com a morte de mãos dadas com os dias que somos e temos. Vamos sendo visitados por ela, mais ou menos proximamente e vamos reajustando as nossas vidas quando a vemos pousar.
Mais do que pensar na morte, da qual não podemos escapar, faz-nos falta pensar mais na vida.
No quanto a tomamos por garantida.
No quanto a julgamos por certa.
Nas imensas vezes que nos esquecemos de dizer amor aos que são nossos.
No quanto vivemos apressados e sem rumo.
No quanto nos deixamos enredar por ritmos que não condizem com o do nosso coração.
Que saibamos fazer-nos um convite diário para não nos esquecermos de viver.
Que a morte nos lembre que tudo passa e que nada se pode repetir.
Que a morte nos lembre que as nossos podem não estar cá muito tempo e que devemos dedicar-nos a cuidar melhor deles.
Que a morte nos faça esquecer as brigas, as tristezas e as guerras e ser protagonistas de paz e de amor.
Ainda vamos a tempo de viver melhor hoje.
Para que um dia possamos dizer à morte que vivemos tão, mas tão bem.