A Religião Consumista
Quem esperaremos no próximo Advento? Que rei queremos? Que deus desejamos, de facto?
Todas estas interrogações ocuparam-me estes dias com a celebração da solenidade de Cristo Rei. Chegamos à Passagem de Ano Cristã: terminamos um Ano Litúrgico esta semana e iniciaremos um Novo Ano com o 1º Domingo de Advento no próximo dia 3. E por costume os cristãos deveriam fazer uma espécie de reflexão e propósito para o ano que aí vem.
Serviu para meditação um artigo de Luigino Bruni “Black Friday. Indebitarsi per la festa. La religione del consumo e i nuovi culti”, no jornal italiano Avvenire. Creio que todo o cristão o deveria ler, porque acredito que muitos se endividam com a festa das Black Friday’s do consumismo. Uma autêntica religião do consumo e os seus novos cultos. A Sexta-feira Negra do consumo é a celebração do novo rei.
O autor alerta para uma realidade cada vez mais visível. O consumismo pretende suplantar a pré-existente Religião Cristã. O capitalismo consumista já substitui as festas cristãs por novas festas e sobrepõe os seus tempos litúrgicos aos tempos anteriores. Quando uma religião assume outra, o antigo ritmo do tempo sagrado não muda, mas simplesmente, ocupa-o e muda o seu significado. Já foi isso que o cristianismo fez ao longo dos séculos, fundamentalmente desde a conversão do Império Romano até à Idade Média.
O que é o Natal nos nossos dias? O que está a acontecer com a celebração dos Santos e dos Fiéis Defuntos? Diz-nos Luigino que, depois da substituição destas festas, o consumismo introduz o seu advento com o Black Friday...
O teólogo russo Pavel Florensky disse-nos em 1921 o seguinte: “O ponto de partida da cultura é o culto porque a realidade original, na religião, não são os dogmas ou mesmo os mitos, mas a adoração, ou uma realidade concreta”.
Nenhuma religião se torna cultura sem culto, e o consumismo está a tornar-se numa religião porque o nosso mundo está imerso no culto do consumo. Até os próprios cristãos...
E como na Idade Média, o cristianismo tornou-se cultura porque a religião cristã entrou em todas as operações e gestos da vida das pessoas: orações, calendários, festas, palavras, narrativas..., hoje a economia tornou-se cultura universal (=católica) graças ao seu culto diário: comprar, vender, publicidade, promoções, linguagem e narrativa empresarial...
E o que tem tudo isto a ver com:
«Então, o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolheste; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me”.» Mt 25, 33-34
Como o novo culto consumista avança, devemos esperar por novos festivais de preceito. E os pobres? E os pobres estarão cada vez mais esquecidos e cada vez mais pobres.
Votos de um Santo Advento.