Praesepium, a Manjedoura Sagrada
Nestes dias que antecedem o final das aulas, dou tempo aos meus alunos para colocarem todas as perguntas sobre o Nascimento de Jesus e as suas Tradições. Faço partilha do Presépio.
Como “Fake News”, tem 800 anos, mas todos gostamos dela. Hoje, é universalmente aceite que não foi São Francisco de Assis, em 24 de dezembro de 1223, em Greccio, quem inventou o que chamamos de Presépio.
As primeiras representações do Natal remontam aos primórdios da era cristã: os seguidores de Jesus Cristo costumavam esculpir ou pintar as cenas do nascimento do Mestre nos seus lugares de encontro, como as catacumbas, por exemplo. E é justamente nas catacumbas de Santa Priscila, em Roma, que encontramos o primeiro afresco, que chegou até nós, que retrata Maria com o menino Jesus no colo enquanto o apresenta aos Magos. Ao lado dela está um homem, muito provavelmente o profeta Isaías, enquanto uma estrela de oito pontas aparece no topo. Estamos no século III d.C.
A configuração desejada pelo Poverello era, na verdade, bem diferente da representação sacra com figuras tridimensionais que se vêm no Natal nas igrejas, nas casas ou outros espaços públicos e privados.
São Francisco ensina-nos que diante da humildade de Deus manifestada na encarnação é impossível não ficar surpreendido. Aliás, talvez só haja espaço para o espanto, para uma espécie de encantamento e de alegria transbordante. As palavras já não bastam. Torna-se necessário ver, tocar, ouvir, cheirar, deixar-se emocionar... porque Deus é amor sem medida.
Ou então, com as palavras do Papa Francisco na Carta Apostólica Admirabile signum, nº 1
«O Sinal Admirável do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. De facto, o Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele.»
Francisco de Assis, através da representação simples e maravilhosa do presépio, tenta transformar este amor de Deus em algo tangível e concreto: faz da pequena gruta de Greccio outra Belém. Assim, pode sentir o frio da noite, participar na alegria de José e Maria, deixando-se tocar intimamente pela ternura do Menino, partilhando o espanto dos pastores, ouvindo o canto dos anjos, experimentando a exultação transbordante, impossível de conter e, portanto, absolutamente partilhada.
O Presépio Instalado no bosque e não na igreja, com Maria, José e o Menino, sem mais personagens, além de dois humildes animais, foi a proposta renovada, mas humilde, tenaz e irredutível, da pobreza cristã tal como a entendia Francisco de Assis, e uma mensagem clara à Igreja da época.
Continua a ser a mesma mensagem para os nossos dias.