A novidade não é o calendário. És tu!

Crónicas 3 janeiro 2024  •  Tempo de Leitura: 3

É fácil colocar a responsabilidade do sucesso de um novo ano numa folha de calendário. Já quase não usamos calendários em papel, mas é essa a sensação que nos fica: uma passagem breve, rápida. E, de súbito, uma imposição: é suposto mudar. Avançar. Apressar os passos para uma coisa melhor, para uma versão mais bonita nossa. É como se houvesse a obrigação de fazer tudo o que ainda não tínhamos feito até então.

 

Essa pressão aperta-nos por dentro e deixa-nos com a sensação de estarmos encurralados. De ter de fazer mais do que aquilo que somos capazes. É por isso que é importante perceber que não há nenhuma novidade na passagem de ano. Há uma esperança que se veste para nos visitar, mas não é uma esperança exclusiva desse momento. Somos nós que, de repente, estamos disponíveis para cruzar olhares com ela. A única novidade no Ano Novo somos nós. Somos nós que estamos diferentes do ano passado por tudo o que vivemos até aqui. Pela volta ao sol que nos trouxe lições, bênçãos, dores, esperanças, tristezas e caminhos novos. Somos nós que temos nas mãos a possibilidade de fazer tudo o que quisermos, não é a mudança de ano ou do relógio.

 

Se conseguirmos dedicar algum tempo a olhar para nós, a contemplar o caminho já percorrido e a perceber a possibilidade de novas direções já é ação suficiente. E, mais ainda, se pudermos simplesmente parar e perceber que também é possível ficar no mesmo sítio até estar pronto para avançar, isso também será igualmente válido.

 

Que o novo ano seja leve.

 

Que traga a paz que precisamos e que se faça semente a partir de nós.

 

Que o caminho seja percorrido com amor, quando nos faltar a compreensão.

 

Que as ideias e os sonhos rimem sempre com as nossas raízes e não nasçam de superficialidades ou vazios.

 

Que tudo nos aproxime da nossa melhor versão, ainda que esse processo traga sofrimento.

 

Que a vida dos nossos continue junto da nossa por muito tempo e que aprendamos a cuidar bem deles. E do que trazemos no coração.

 

E que a alma se acende sempre na direção do caminho que nos fizer mais felizes.

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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