Conheces a tua raiz?

Crónicas 10 janeiro 2024  •  Tempo de Leitura: 2

Debaixo do mar imenso de tudo o que somos mora a nossa raiz. Ali. Pequenina e enterrada num canto sem nome. Dentro do coração. Ou da alma. Ou do sangue que nos corre por dentro sem disso tomarmos consciência.

 

Somos mais do que aquilo que julgamos. Somos de uma profundidade quase assustadora. Mas reveladora. Esse “mais” é o nosso centro. A nossa vida crua. Nua de expectativas, de máscaras, de cuidados, de sorrisos mais ou menos falsos. A nossa vida não é nada do que mostramos. Pelo contrário: é exatamente aquilo que dorme nas camadas inferiores do que está à vista.

 

Estamos profundamente desconectados da nossa raiz. Das nossas emoções. De todas as pessoas que nos deram a vida e nos permitiram ter chegado onde agora estamos. Não falamos só dos nossos pais. Mas também dos nossos avós. Dos nossos bisavós. Dos que vieram antes deles. Dos que dormem agora na ponta de alguma estrela ou no resquício de alguma galáxia. Somos tudo isso. Somos o que viveram, o que sonharam. O que perderam. O que imaginaram. Os lutos que viveram. As dores que engoliram. O sofrimento que viveram ou que causaram. A alegria do que conquistaram. A vida que se cumpriu. Somos tudo isso. Somos todos estes. E vivemos como se tivéssemos caído aqui numa rajada de sorte ou de despropósito.

 

Julgo que a maior fonte de não realização de todos nós é este ignorar do mundo dos nossos que nos antecedeu. Precisamos de tornar o coração um aspersor de compaixão e de bondade e de o derramar sobre estas histórias que nunca ninguém nos contou.

 

Não estamos cá sozinhos. E estamos sempre a ser preparados para algo maior do que nós ou, quando muito, para algo digno do nosso tamanho. Assim tivéssemos capacidade para o reconhecer.

 

Neste novo ano em que queremos estrear coisas novas; em que queremos fazer a vida rimar com folhas em branco; em que teimamos em inaugurar uma vida diferente da antiga… que tenhamos também a coragem de olhar para trás. De ver quem veio para nos dar o que hoje temos. Ou para nos ajudar a construí-lo.

 

A nossa raiz não somos só nós. São todos aqueles rostos iluminados que fazem sombra atrás de nós. E que bom é saber que nunca estaremos sozinhos.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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