Não fiquemos paralisados no caminho da vida
Existem cristãos que encaram o tempo da quaresma com olhos tristes, pesarosos. Para que se saiba, os cristãos verdadeiros não são masoquistas, desiludidos ou desapontados. Ou seja, não vivem este tempo favorável com pessimismo.
Por duas razões essenciais: 1ª A paixão e morte de Jesus, não foram um fim em si mesmas. Não as podemos compreender sem a Ressurreição. 2ª As desgraças deste mundo (guerras, misérias humanas, doenças, ...) não nos podem atormentar pois Jesus Cristo Ressuscitado é a nossa verdadeira esperança.
É neste sentido que tenho meditado na mensagem do Bispo do Porto e seus auxiliares para esta Quaresma: Com Cristo, Um caminho alegre, “Subamos juntos a Jerusalém” (Mc 10, 33)
“Iam a caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus seguia à frente deles. Estavam espantados e os que seguiam estavam cheios de medo. Tomando de novo os Doze consigo, começou a dizer-lhes o que lhe ia acontecer: «Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos-sacerdotes e aos doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entregá-lo aos gentios. E hão de escarnecê-lo, cuspir sobre Ele, açoitá-lo e matá-lo. Mas, três dias depois, ressuscitará»”
Os discípulos de Jesus estavam espantados e cheios de medo. Também hoje vivemos uma era de profunda incerteza: o equilíbrio de poder internacional foi invertido, a lógica da guerra que parece estar a vencer, a corrida ao armamento sem sentido, a pobreza de muitos que vemos em primeira mão. Mas não só. As dificuldades no acesso à habitação, os problemas na saúde e educação, os divórcios e separações, os jovens com crise de identidade, o deus dinheiro...
Mas onde está, então, a verdadeira esperança? O texto do evangelista Marcos apresenta-a: “e Jesus seguia à frente deles.” Ao viver a Sua paixão e morte, percebemos que Ele está connosco. Como está escrito nesta mensagem para Quaresma: “Jesus é companheiro. Não os manda seguir deixando-os sozinhos nas dificuldades. Não! Caminha com eles e convida-os a fazerem caminho conjunto.” Ele está connosco! Com Deus o impossível não existe, desde que cada um de nós escolha mudar com inteligência e com a vida, ser o novo mundo que desejamos.
Dar crédito à verdadeira esperança não significa correr atrás de lampejos ou cair no sentimentalismo. Acolher a verdadeira esperança é, por exemplo, estar diante de um problema, de uma situação difícil, de uma pessoa que sofre, e não dizer, “Que triste!”, mas antes “O que posso fazer?”.
Escolher a verdadeira esperança significa, portanto, viver feliz e viver para fazer os outros felizes. É não se sentir sozinho e não deixar que ninguém se sinta só. É saber pedir ajuda e ajudar...
Dito isto, todos podemos ter a atitude de alimentar esta esperança. Como? Através de milhares e milhares de bons gestos, através de escolhas de vida individuais feitas pelos e para os outros. E é nesta conversão que faz todo o sentido aquela trilogia quaresmal: oração, penitência e esmola.
Não fiquemos paralisados no caminho da vida. O caminho não se faz parado, não se faz sem riscos.
Volto à mensagem: “Ao contemplar as chagas de Cristo, o nosso olhar direciona-se para as feridas e dores de cada um, de cada família, de cada comunidade, da Igreja e do mundo em geral. E interpela-nos a levantarmos o olhar do coração para a luz da Páscoa. Somos sarados, curados, salvos pelas chagas abertas do amor de Cristo. Sejamos bálsamos para as feridas uns dos outros.”
Porque o amor verdadeiro sempre nos empurra, sempre nos faz recomeçar. O amor verdadeiro não pode esperar que um dia passe e comece outro de novo. No cansaço, nas deceções, o amor continua sendo amor. A nossa caminhada dará frutos e talvez os vejamos. Talvez no momento não saberemos a quem agradecer, mas o milagre das nossas escolhas, da nossa conversão, será realizado. E se não os vemos, não importa. Outros irão buscá-los.
Continuação de uma santa Quaresma.