O nosso olhar, os nossos gestos, moldam o futuro...
Tive a graça de estar presente na apresentação do livro “Identidade e Família”. Escrevo graça, porque consigo ir além de todo o aproveitamento político da questão. Não ponho em causa que este evento, não tenha querido ou desejado estar no furacão da atualidade política. Qual é a atividade humana que não seja política?
Mas a intervenção do antigo primeiro-ministro (Pedro Passos Coelho) não se limitou a uma interpretação política. Ali houve uma verdadeira interpretação antropológica. Ou seja, o que é o ser humano e como é que ele se realiza, senão na relação com o outro que se concretiza na relação familiar.
O filósofo Karl Popper, numa edição póstuma «A lição deste século», disse:
«O futuro é muito aberto e depende de nós, de todos nós. Depende do que tu e eu e muitos outros homens fazemos e faremos, hoje, amanhã e depois de amanhã. E o que fazemos e faremos depende, por sua vez, dos nossos pensamentos e desejos, das nossas esperanças e dos nossos medos. Depende de como vemos o mundo e de como avaliamos as possibilidades de futuro que estão abertas.”
O nosso olhar, os nossos gestos, as escolhas que fazemos – mesmo as mais simples – moldam o futuro.
Hoje, infelizmente e apesar de tantas lamechas públicas, a família é tratada como um assunto residual, como o último item da lista, como se houvesse muitas outras questões, mais importantes a serem pensadas. Se é verdade que existem emergências económicas: desde o apoio ao emprego até às pensões de sobrevivência, também o é a questão da Família.
Ano após ano, o tecido das comunidades tornou-se fluido e desgastado, os casamentos diminuíram, os novos nascimentos têm atingido mínimos históricos.
A decisão de ter um filho não depende apenas da existência de um Abono de Família, mas é certamente influenciada pela luz que a sociedade projeta sobre o futuro, através de sonhos e desejos compartilhados, através dos projetos que formula e implementa: A família, é ou não é a célula da sociedade?
Ficar do lado da família não é, portanto, apenas uma questão de dinheiro, nem mesmo de votos, mas de perspetiva: dizer se é, ou não, a força motriz da sociedade!
No 10º Encontro Mundial das Famílias, realizado em Roma, o Papa Francisco afirmou: «Todos nascemos com muitos condicionamentos, internos e externos, e sobretudo com tendência para o egoísmo, ou seja, para nos colocarmos no centro e zelarmos pelos nossos próprios interesses. Mas desta escravidão Cristo libertou-nos».
Portanto, a família é o antídoto para lutarmos contra esse egoísmo.
Continuou o Santo Padre, «ao mesmo tempo que afirmamos a beleza da família, sentimos mais do que nunca que devemos defendê-la. Não deixemos que seja contaminado pelos venenos do egoísmo, do individualismo, pela cultura da indiferença e do desperdício, e assim perca o seu ‘ADN’ que é a hospitalidade e o espírito de serviço».
Bem hajam aqueles que não têm medo de defender a Família.