Como começam as guerras?
Os dias que hoje vivemos parecem-nos escuros. As guerras proliferam à volta do globo, ceifando vidas inocentes, dizimando casas, cidades e lugares que antes pareciam seguros.
Custa-nos entender como é que as guerras começam e, mais ainda, como é que continuam por tempo indeterminado quando, muitas vezes, já não se justificam ou, mais ainda, quando nunca se justificaram.
As guerras começam quando as pessoas deixam de estar no seu lugar e pretendem obter o que não é seu por direito. Começam por justificar-se ataques a alvos mais ou menos políticos, mas, rapidamente, tudo galga para um conflito onde se perde a noção de todos os limites e onde se perde, essencialmente, o respeito pela vida humana. As pessoas deixam de considerar os outros como iguais e deixam mesmo de os conceber como seres humanos, numa atitude de completa e total alienação.
Aquilo que sabemos sobre os grandes conflitos mundiais está à vista. Mas e o que está do nosso lado das fronteiras? E o que mora dentro da nossa interioridade? Também é gerador de conflito?
Um conflito só existe e só se projeta no exterior quando vivemos em guerra com o nosso mundo interno. Quando não nos queremos ver, quando não conseguimos aceitar o que não convive em paz dentro de nós. É essa a razão principal de todo e qualquer conflito. E ainda que não esteja ao nosso alcance acabar com o massacre que todos os dias nos entra casa adentro através das notícias, podemos, isso sim, dedicar tempo ao que somos e perceber que ponta do fio ainda precisamos de desenrolar e de amar.
Não podemos, de facto, controlar o que se passa fora de nós. O que os outros decidem dizer ou fazer. O que os outros decidem não dizer ou não fazer. Como os outros decidem tratar-nos ou destratar-nos. Mas podemos decidir como gerimos esse impacto dentro de nós e como permitimos, ou não, os efeitos dessas palavras ou tratamentos.
Estamos ainda muito longe de um nível de consciência que nos permita compreender que os outros também somos nós. Mas podemos caminhar a bom ritmo na direção da compaixão e do não julgamento. Se estivermos dispostos a isso, claro.