Como educar os jovens para a Felicidade?
«Paulo, como se educa um jovem para a felicidade?» Esta foi a pergunta que me dirigiram depois de terem lido a minha última crónica, O que é a felicidade?
Sem a pretensão de ser uma expert na matéria; daquilo que vou aprendendo na vida como professor e coordenador de movimentos juvenis; e de toda a formação que vou tendo ao longo do meu percurso, partilho estes pontos de reflexão.
Para uma boa preparação para a felicidade é preciso, usando uma linguagem futebolística, um bom estágio (infância e adolescência); um bom campo de jogo, bons colegas de equipa e bons treinadores. Portanto a questão é: onde, com quem e por quem formamos os nossos jovens?
A felicidade não se alcança concentrando toda a atenção sobre si mesmo! A vida tem e deve ser partilhada com os outros. Basta de egoísmo! Basta de egocentrismo! Basta de autossuficiência! Além disso, não serei feliz vivendo apenas no presente. É uma construção permanente até ao fim da vida e não imediata. Também não se é feliz estando sempre em festa. Como damos valor ao que é bom se não vivemos momentos menos bons? Por fim, não protegendo em excesso os nossos jovens dos obstáculos, das dificuldades e das frustrações. Não é viver num mundo fictício sem problemas, mas viver sem medo, a vida tal como ela se apresenta.
Precisamos de dar-lhes ferramentas para saber lidar e superar as tempestades da vida. Como resistir e vencer a obstáculos e a insucessos para que se tornem adultos responsáveis e conscientes.
Mas isso requer adultos competentes, ou seja, bons treinadores, os país - e outros adultos. Trata-se de restaurar a autoridade educativa e emocional dos adultos, ou seja, a capacidade de estar conectado com os seus filhos e, ao mesmo tempo, estabelecer limites e fronteiras.
Para isto, precisamos de tempo com os nossos jovens! Tempo esse onde propomos percursos e não objetivos. Para muitos psicólogos, não devemos ficar presos ao falso mito da linha de chegada, mas estar atentos ao caminho, que é diferente de jovem para jovem. Tudo foi acelerado: ao encher os nossos filhos de compromissos e metas, estamos a privá-los da possibilidade de viver as suas etapas de desenvolvimento. Com a agravante de muitas vezes terem que seguir o projeto de vida de e dos adultos.
As crianças e os jovens devem ter espaço para se movimentar e expressar-se. Os smartphones inibem-nos na capacidade de aprendizagem com os outros. Para crescer, devem ser capazes de se movimentar no campo e na cidade; eles precisam de espaços de encontro para expressar a sua vitalidade e energia. Os telemóveis com jogos e vídeos, servem muito mais os adultos para mantê-los calmos, silenciosos e assim não os incomodar. São uma nova chupeta, ainda que eletrónica...
É preciso trazer de volta às cidades espaços para jovens e crianças. Só assim poderão aprender a empatia, a gestão de relações reais – incluindo conflitos e posterior reconciliação – e a partilha de bens. Uma aprendizagem que deve ser iniciada desde cedo, para evitar a saída do mundo real para o virtual. É assim que se afastam da vida social. «Vive no seu quarto...». Eu direi, no seu mundo...
Uma das questões mais difíceis: afeto e sexualidade. Vivemos numa sociedade muito erotizada. A sexualidade nasce connosco e deve ser educada, sobretudo num tempo em que parece existir apenas uma sexualidade predatória que persegue a ideia de que o corpo é objeto de prazer e não sujeito de relação.
Colocar a sexualidade numa dimensão de amor significa permitir que os jovens tenham um bom conhecimento das suas emoções, do que é feito o seu corpo, do que significa construir relações saudáveis e por fim, conhecer todas as potencialidades que essa dimensão dá à vida dos humanos. Os adultos têm de encontrar formas para falar sobre a intimidade sem entrar na intimidade de cada um, seja do adulto, seja do jovem. Se não forem os pais, serão as redes sociais, o youtube e os sites da web. É preciso tempo...