Quando puderes, descansa!

Crónicas 24 julho 2024  •  Tempo de Leitura: 3

Aproxima-se o tempo das férias. O tempo de parar. De olhar menos para o relógio que parece correr sempre contra nós e contra o que gostaríamos de fazer. Devemos sempre tanto ao tempo que passa. E parece-nos sempre estranho encontrar tempo para descansar e para abrandar o ritmo. Quase como se não tivéssemos direito a sossegar, a respirar fundo para sentir tudo o que se passa dentro de nós e à nossa volta.

 

No entanto, a verdade é que sem descanso deixamos de funcionar, de ter paciência, de processar devidamente o que nos vai acontecendo. Mas, então, o que nos leva a sentir esta culpa por “não fazer nada”? Como se estivéssemos permanentemente em dívida?

 

Vivemos num tempo de profunda aceleração. O que parece contar é a produtividade a todo o custo. Os interesses familiares e de lazer ficam sempre para segundo plano porque nos fizeram crer que o trabalho é a coisa mais importante na nossa vida e à qual devemos dedicar mais tempo e energia. Mas não nos ensinaram que se a nossa vida for orientada apenas para produzir, fazer e agir, acabamos por perder o norte às coisas importantes e essenciais. Deixamos à vida em stand-by. Como fazíamos antigamente com os telefones. Pendurados enquanto íamos chamar a pessoa que seria o destinatário da chamada.

 

É isso que estamos a fazer à nossa vida: a deixá-la em espera. E em vez daquela música irritante e repetitiva não ouvimos nada. Só o silêncio das coisas e das pessoas que vamos perdendo por faltar sempre ao mesmo jantar. Por chegar a casa quando os miúdos já estão a dormir. Por não ter tempo para visitar a avó, a mãe ou o pai. E o peso dessa culpa e dessa falta que vamos deixando na nossa vida e na dos outros só se compensa se trabalharmos mais… por que é dessa forma que nos conseguimos esquecer do tanto que nos falta e do tanto que gostaríamos de fazer diferente.

 

Por isso, e contrariando aquilo que ultimamente nos tem sido ensinado, que saibamos descansar durante as nossas férias e também durante o resto do ano. Que não nos deixemos esquecer que o preço a pagar por deixar de fazer falta não pode ser compensado com mais dinheiro ou com mais tarefas.

 

Não fazer nada é ter tempo para nos encontrarmos connosco. Com os nossos pensamentos, emoções e dificuldades. E tudo deve fazer parte. Só assim poderemos viver uma vida mais completa e mais inteira.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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