Começar de novo ou começar outra vez?
Há sempre em cada um de nós esta vontade (quase inata) de recomeçar. É como se pudéssemos colocar um ponto final fictício em tudo o que não era assim tão bom. Os inícios dão-nos a esperança de que alguma coisa seja diferente do que era. Como se houvesse uma promessa bonita que nos fala ao coração:
“Desta vez é que vai ser”
“Agora é que eu vou ter coragem”
“Desta vez vai ser melhor”
O problema dos recomeços, sejam eles em setembro ou quando estreamos o novo ano em janeiro, é que têm um elemento comum que nem sempre está disposto a mudar e a fazer diferente: nós.
Assim, é-nos mais fácil colocar a intenção naquilo que é exterior a nós, naquilo que não controlamos, naquilo que não prevemos e nas expectativas mais ou menos irrealistas do que na nossa própria responsabilidade e no protagonismo que somos chamados a ter perante a nossa vida.
Claro que é tentador colar os braços a esta novidade que se acende quando algo recomeça ou reinicia. O pior é que, se nos retiramos da equação principal, o resultado não vai corresponder ao que desejaríamos.
Por isso, e ao contrário do que costuma ser habitual lermos, o verdadeiro desafio não é recomeçar. É recomeçarmo-nos. É termos a capacidade de olhar para o que somos e perceber o que nos diz o novo e o velho. Para as páginas que compõem a nossa história e que nem sempre conseguimos ter a disponibilidade emocional para ver.
Mais ainda, somos chamados a perceber que a novidade está naquilo que conseguimos encontrar de diferente e de bom em cada dia, em vez de repetirmos o piloto automático do costume e ir mantendo o nosso coração em ponto morto, com o medo de arriscar. E arriscar não é sempre inaugurar caminhos novos. Às vezes, arriscar é ter simplesmente a coragem para olhar para trás.
Afinal, foi lá atrás que o caminho começou. Foi lá atrás que começamos. E ninguém estará capaz de (se) recomeçar se não tiver a coragem de ver o que nos trouxe até aqui.