Trazer à vida o que é bom

Crónicas 18 setembro 2024  •  Tempo de Leitura: 2

É um dos desafios mais difíceis nos dias que correm. Os cenários à nossa volta são dantescos. Somos raptados dos nossos dias mais ou menos pacíficos para nos depararmos com tragédias permanentes à nossa volta. Ligamos a televisão e encontramos um cardápio do absurdo: incêndios, guerras, agressões em escolas, mortes, violência, desrespeito pela vida humana.

 

Esta constatação do trágico que mergulha rapidamente nas nossas vidas deixa-nos impotentes. Sentimos que não podemos fazer nada para ajudar os que sofrem e que os que podem não o fazem nem se preocupam. Sentimo-nos a viver numa distopia constante onde já não conseguimos distinguir o real do imaginário. O sério do leviano. O simples do complicado. Tudo se une numa bola de caos que não queremos engolir nem digerir.

 

O que nos sobra então, quando nos deparamos com dias tão difíceis? Tão repletos de dor e de destruição?

 

Sobra-nos a certeza de só podermos fazer o que está ao nosso alcance, mesmo que nos pareça pouco.

 

Sobra-nos a oração que nos coloca num lugar de espera e de esperança. Num lugar de quem se quer deixar nas mãos dAquele que sabe mais (e melhor) do que nós.

 

Sobra-nos a coragem de viver cada dia que nos é dado da melhor maneira possível com aqueles que nos fazem companhia nestes cenários confusos.

 

Sobra-nos a capacidade de sentir empatia pela dor do outro e de nos conseguirmos colocar no seu lugar, aproximando-nos do seu sofrimento e da sua realidade.

 

Sobra-nos o viver no momento presente com moderada preocupação pelo que não está ao alcance do nosso controle.

 

Tudo isto parece vazio para quem vive uma tragédia ou para quem sente que perdeu tudo.

 

Que seja nesse vazio que nos permitamos encontrar com o nosso irmão magoado, sem esperança e sem alento.

 

E que desse vazio possa voltar a nascer a fé de que o amanhã há de ser um bocadinho melhor do que o hoje.

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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