Qual é o 𝙈𝙖𝙞𝙨 que nos interessa?
A humanidade encontra-se numa encruzilhada e, aparentemente, anda sem rumo e com um destino assustador. Num mundo com tanta violência e guerra, com tanto egoísmo e egocentrismo, que legado moral e ético deixamos para as gerações futuras?
Há esperança? Que solução? Que caminho a empreender? O Evangelho deste domingo aponta a direção.
O gesto de Jesus de abraçar a criança é surpreendente porque naquela época as crianças não gozavam de qualquer consideração, aliás eram consideradas irracionais e apenas objeto de educação dos adultos. A criança aqui não é símbolo de pureza e de inocência, mas de simplicidade, de disponibilidade confiante, de abandono sem cálculo, sem duplicidade de interesses. A criança que não se basta a si mesma e só vive se for amada!
Jesus abraçando a criança com ternura indica-a como um modelo a imitar, respeitar. Os mais pequenos não são modelo de perfeição, mas sabem desfrutar da beleza da existência, receber o amor sem o merecer, e confiam em quem os ama.
Isto alimenta a gratidão e afasta as disputas, os desentendimentos, que estão sempre à espreita, até mesmo entre os irmãos da mesma fé. Não é à toa que Jesus nos ensina a chamar Deus com o mesmo termo carinhoso típico de uma criança: Abba! Pai!
«Na rua discutiram entre si quem era maior». Pergunta infinita, que perseguimos há milénios.
Esta atitude dos discípulos não nos deve chocar, pois é uma postura tipicamente humana: comparar-se continuamente com os outros para ser mais, valer mais… do que os outros. São a forma de ter mais poder, de ser mais estimado, de ser mais amado.
Esta tendência para ser o primeiro, o primeiro pelo menos para alguém, para um círculo pequeno ou grande, é uma forma inata de funcionar que, muitas vezes sem nos apercebermos disso, aplicamos instintivamente.
Esta fome de poder, esta fúria de comandar foi sempre um anúncio de destruição, de guerra, de ditadura e de escravidão... Por isso é que o Reino de Deus é a inversão de valores: a atitude subjacente é a do serviço: o outro é aquele que não deve ser utilizado em benefício próprio, mas aquele que se deve servir e amar.
O outro quebra os nossos planos, rouba o nosso tempo, faz com que nos percamos até de nós mesmos, como Cristo que nos amou e deu a vida por nós. É converter a nossa vontade em vontade de servir!
Jesus está a dizer que a lógica do Reino assenta em critérios diferentes daqueles que surgem instintivamente em nós: a vida não é uma corrida, uma competição para ver quem é mais ou quem é o maior, mas é uma mistura de relações em que o mais diz respeito ao amor que se dá.
Portanto, o caminho que temos de empreender nesta encruzilhada, é o da confiança em Deus, que é Pai, e o do serviço ao outro, que é irmão.